Eu cresci com medo de fracassar. E com medo, tentei ao máximo fugir de tudo que pudesse me levar a isso. Acontece que uma hora aconteceu. E o que eu saquei na lona, eu te conto nesse EP
Autossabotagem por definção é quando a gente faz de tudo para perder algo que a gente quer muito. A gente faz isso. Eu fiz isso. Fiz e desconfio que você já fez também. Mas desce uma cerveja...que nesse ep eu te conto o por quê.
Eu não sei vocês, gente, mas às vezes me dá um puta medo de não ser suficiente, sabe? De não ser o bastante, de não dar conta...Ceis tem disso também? Então dá um play, senta comigo, que eu te conto o que eu aprendi quando eu me caguei de medo diante da possibilidade disso acontecer
Semanas atrás fiquei sábado à noite em casa. Montei uma programação gostosa no meu sofá e, segundos antes, de desfrutá-la dei uma espiadinha no celular. Nesse episódio eu conto o porque essa espiadinha foi a pior (e depois a melhor) decisão que eu tomei nos últimos tempos.
Puxa a cadeira, pega esse copo, vai catchup na batata? Nesse episódio eu te conto sobre um dos períodos mais difíceis que atravessei na vida e das lições que eu aprendi quando ele ficou para trás. Vem?
Ei, que delícia cê aqui, de novo. Vamos de batata ou polenta? Mesa aqui fora, né? Que bom que cê veio. Como anda? Queria te contar... te contar que eu descobri que a gente pode ser muito corajoso e - mesmo assim - não ser forte o tempo todo. Te contar que eu precisei de um tempo e de um susto grande para saber
Entrei no consultório da minha terapeuta falando de caipirinha e saí de lá sabendo que eu era uma pessoa que não gostava de mudança. O que tem a ver uma coisa com a outra e o que aconteceu quando eu soltei o corpo no fluxo da vida eu te conto nesse ep
O ano era 2015. Eu cheguei lá com o peito angustiado, uma mochila nas costas e zero referências. A única coisa que eu fiz antes de pegar um ônibus rumo aquele destino desconhecido foi uma ligação para perguntar: posso me negar a participar de algo que me pareça suspeito ou duvidoso? Com a resposta, deixei cem quilômetros para trás e desembarquei naquele lugar. Eu não sabia o que esperar e, talvez, por isso, nem em sonho, eu poderia imaginar o que aconteceria horas mais tarde. O que eu sei hoje é que aquilo tudo mudou a minha vida e nesse episódio eu te conto o motivo.
Recentemente, eu fui numa festa. Uma festa que eu não teria pisado se não fosse a convite de uma grande amiga. Uma festa que não tinha nada a ver comigo, que não era meu tipo de festa. Uma galera que não era a minha galera, uma música que não era minha música, uma sensação constante de "cara, o que eu to fazendo aqui?", um desencaixe. Eu não queria tá ali. Mas eu precisava. E porque precisava, fiquei. E ficando aprendi umas coisas maravilhosas sobre a vida. Te conto nesse episódio. Senta comigo?
Na busca pela perfeição, a gente fecha portas, abandona oportunidades, perde chances, foge de relacionamentos. Na busca pela perfeição, a gente esquece que ser imperfeito pode até ser desconfortável, mas nos dá a certeza que é pelas nossas frestas que o amor entra.
Eu demorei para perceber a delícia de não se levar tão a sério, mas quando eu aprendi, foi impossível esquecer. E foi porque a lição veio num primeiro encontro muito louco. haha Nesse episódio, eu compartilho com você o que eu aprendi nesse caminho Tá gostoso e levinho. Cê vem?
Você lembra a última vez que você vacilou com alguém? Que você fez algo que, pouco tempo depois, você disse para você: "cara, podia ser de outro jeito. Não precisava." Esse não é meu último erro, mas é minha última culpa desse erro, porque depois de ter errado em uma coisa que eu não queria admitir ter errado, eu saquei. Eu saquei que eu podia dar um sentido bonito às minhas culpas. Te conto nesse episódio. Senta comigo?
Se você fosse fazer uma lista de coisas pelas quais te ensinaram a se desculpar, quantos itens essa lista teria? Se não tivesse jeito único para nada, você se sentiria mais leve? Mais do que isso. Se você, um dia, acordasse e não precisasse explicar a razão dos seus sonhos, das suas roupas, dos seus amores, da sua forma de sentir, do teu jeito de acessar Deus...como você se sentiria? Pensei nisso tudo nesse episódio. O mais curioso foi o jeito que isso tudo aconteceu. Foi com uma menina. No trem. Te conto...mas antes: vamo de polenta hoje?
Acontece. Às vezes a resposta não chega, o telefone não toca, o e-mail não retorna. Acontece. Às vezes o mapa não leva para o caminho planejado, a vida rasga o roteiro e, depois de muito cálculo, a conta não fecha. Acontece. Mesmo. Na minha vida e na sua. E eu tenho sacado que quanto mais rápido a gente faz as pazes com a vida, mais leve fica. Dá o play que a polenta tá chegando.
Às vezes a gente responde aquela mensagem, às vezes a gente sai com aquela pessoa, às vezes a gente estica mais um dia no trabalho, às vezes a gente aumenta os nossos buracos justamente por não saber, ao certo, como fecha-los. Nesse episódio eu divido com vocês o que eu fiz para parar de me rasgar onde já doía. E aí, cicatrizar. Cê vem?
Depois de uma intoxicação alimentar, eu descobri que não era só meu corpo que estava precisando se livrar de alguns venenos, mas a minha alma. Nesse episódio eu te falo de três coisas que eu resolvi soltar, abandonar, deixar, me livrar e que, desde então, tem deixado minha vida muito mais leve. Bora juntos nessa travessia?
Eu acredito que autoestima tem tudo a ver com dar nome para a nossa corda. Corda, isso. Dar nome para a nossa corda. Corda é o nome que eu dou para aquilo que nos prende em situações de desvalor, é o que nos faz aceitar pouco, a é o que nos faz acreditar que não somos suficientes. Para fortalecer a nossa autoestima, eu acho que, antes, a gente precisa achar a nossa corda. Eu achei a minha. E foi só quando eu soltei ela, que deu para dar uns passos nesse assunto. Nesse episódio, eu te conto como eu fiz. Quem sabe faz sentido para você também. Se não fizer, a calabresa frita é por minha conta.
Quase todo mundo já rejeitou. Quase todo mundo já foi rejeitado. Mas será que a gente rejeita só por falta de interesse? Tenho a suspeita de que não. Nesse episódio trago um outro olhar sobre esse assunto. Começa aqui...mas pode terminar com você me contando o que achou no instagram do podcast @paradarnomeascoisas
Eu sempre tive uma ideia sobre Natal. E ela era sempre do mesmo jeito, do jeito que a gente vivia lá em casa, era de um jeito feliz. Era. Até que as coisas viraram outras coisas e a gente se viu querendo que o Natal não existisse. Sabe? Mas o mundo acontece para além do nosso mundo e com ele acontecendo, o Natal chegou. Quando chegou, a gente inaugurou um outro Natal. É dele que eu falo aqui. Falo também de um até logo...mas aí eu só te conto mais se você sentar comigo.
Às vezes dá um puta medo, não dá? E às vezes, junto com o medo, dá uma puta dúvida, não dá? Às vezes a gente se pega pensando: será que é isso, mesmo? E se der errado? E se não for isso? A verdade é que às vezes a gente até sabe o que quer, até sabe o que deseja, mas lidar com o caminho até o nosso desejo, enfrentar as incertezas, trava a gente no meio, não trava? No episódio dessa semana, eu falo disso, desses dois monstros que vez ou outra cruzam o nosso caminho e das estradas que eu peguei para lidar com eles.
Tem dia que é foda, não é? A gente tem vontade de largar tudo, mudar tudo, sair de tudo, pedir para riscarem o nosso nome de tudo. Tem fase que a gente tá cansado, triste, exaurido. Tem fase que parece que por mais que a gente tente, nada muda. Nesse episódio eu falo sobre um período assim, difícil. Um período em que eu tive que fazer uma aposta muito grande na esperança. Era questão de vida ou morte. Tudo ou nada. Era uma tentativa. Nesse episódio eu te conto como tudo terminou. Adianto: a felicidade voltou.
Às vezes a frustração vem rasgando, não vem? A gente não passa na prova, não entra no emprego, não recebe a mensagem de volta. Mais do que isso: às vezes a gente é demitido, deixado, trocado. A frustração é foda. Eu passei por ela duas vezes. Mas eu saí e é sobre como eu saí que eu falo no episódio hoje. Papo sincerão...Cê vem?
Montar estratégias e traçar planos para alcançar os nossos sonhos, me parece que é tão fundamental quanto deixar brechas na nossa agenda, nos nossos caminhos, nas nossas travessias, só para admirar o que a gente já fez. Anotar os nossos desejos ao lado de prazos ideais é tão importante quanto fazer um asterisco no canto da folha para dizer: acredita, vai com tudo, mas pega leve com você! Botar o barco no mar é tão importante quanto ajeitar a mochila na proa só para admirar as águas que a gente desbravou, os metros que a gente já nadou, às margens que a gente já alcançou. E é importante a gente lembrar disso, porque a todo tempo a gente é ensinado a conquistar coisas que a gente não tem, mas pouquíssimas vezes nos lembram de reconhecer o que a gente já é, o que a gente já conseguiu.
Para alguns erros, algumas mancadas, alguns passos tortos, o perdão do outro não é suficiente para fazer a gente seguir, é necessário a gente se perdoar. Mas para a gente se perdoar é preciso, antes de tudo, se reconhecer de novo. A culpa faz com que a gente fique com o nome, o formato e a sensação do erro. A gente, de repente, perde a nossa identidade e vira o grito na hora errada, a ofensa, o egoísmo, o vacilo. E para se perdoar a gente precisa reconhecer que o passo errado foi nosso, mas que, mesmo sendo nosso, ele não é o único que a gente deu, nem o único que a gente pode dar. Para se perdoar, a gente precisa se reconhecer como alguém que errou, não como alguém que é um erro. Para se perdoar, a gente não precisa negar a culpa, nem se apossar dela, a gente pode usá-la como caminho na busca de decisões melhores.
De repente, eu tava vivendo um período que eu tinha sonhado há muitos anos, mas tudo que eu sentia é que ele estava escapando pelos meus dedos, sem que eu o experimentasse. Eu não estava conseguindo viver o presente, porque nada do que eu fizesse conseguia tirar a minha mente do futuro....do futuro trágico que ela construía sem parar. Era só eu olhar para cadeira de sol, que minha cabeça me desenhava embaixo da ponte, pedindo esmola, enquanto eu pensava: “eu não deveria ter tomado sol naquele dia, eu deveria ter dito sim para aqueles empregos que me ofereceram”. A mente ansiosa não para, não descansa e quer tudo que ninguém pode dar: garantias.
É um exercício difícil, mas eu tenho me esforçado para ser capaz de me amar, mesmo quando eu não sou excelente, mesmo quando eu sou comum, mesmo quando eu sou boba, mesmo quando eu erro no trabalho, mesmo quando eu não dou conta, mesmo quando as pessoas não me aprovam, mesmo quando eu ou a vida me fazem colocar os dois pés na zona do ridículo. É um exercício difícil, mas eu tenho me esforçado para ser capaz de reconhecer que eu não vou ser excelente em coisas que eu to fazendo pela primeira vez, que eu não vou ser incrível em tudo que eu fizer, que eu não vou ser digna de aplausos em todas as minhas decisões e que eu posso fazer coisas ridículas para os outros e, mesmo assim, ser capaz de deixá-la na linha do tempo da minha vida, porque elas são importantes para mim.
Amor próprio não é só sobre obedecer a regra de não mandar mais uma mensagem depois da última não respondida. Amor próprio é se perguntar: porque eu insisto em relações em que eu tenho dez por cento de euforia e 90 de dor de cabeça? Aprendi com a minha tia Maria José, a mesma do episódio 20, que o que está fora, está dentro. E vice-versa. Quanto mais eu me esforço para me respeitar, mais parece improvável estar em uma relação, em uma situação, em uma amizade em que o respeito não acontece. Quanto mais eu me trato bem, menos espaço eu tenho para estar ao lado de quem não faz isso. Quanto mais eu me esforço para ser uma boa companhia para mim, mais a presença do outro vira um prazer e não uma necessidade. Quanto mais eu celebro as minhas singularidades, mais as singularidades dos outros me parecem bonitas.
Descobri nos primeiros anos de terapia que eu sou controladora. A minha primeira reação foi: eu? Controladora? A Elsa me conhecia muito do ponto de vista psicanalítico, tinha credibilidade, mas aquela afirmação me assustou. E eu disse: eu controladora? Por quê? No lugar de me responder, ela me fez outra pergunta: por que você está tão incomodada com a ideia de que as coisas possam ser de outro jeito que não daquele que você planejou? Por que está tão difícil para você abrir espaço para que as coisas se apresentem do jeito que são e não do jeito que você queria que elas fossem? Por que você está brigando com a realidade, no lugar de abrir mão das suas fantasias? Ela não disse, mas poderia ter dito: por que você não vai ser feliz com essa pessoa que te faz bem e feliz, no lugar de ficar elaborando justificativas para não abrir mão dos seus conceitos cristalizados sobre o que é uma pessoa ideal? Por que você não aposta nesse novo emprego, invés de ficar arranjando desculpas para não sair
Essa é uma história sobre esperança. É um episódio para ouvir quando o coração apertar, quando o medo bater, quando a ansiedade pintar. É um episódio sobre esperança...a minha história com a esperança, mas pode ser a sua também. Boa audição! No Instagram: @paradarnomeascoisas Instagram das aulas: @Studio.micheleperes
Quando você deixou de ser legal com você? Quando você deixou de levar uma parte da vida só na brincadeira? Quando foi a última vez que você olhou para algo e disse: é o suficiente, é o bastante, foi o melhor que eu consegui e, por isso, estou com o peito tranquilo? Quando foi a última vez que você não se censurou por honrar a sua vontade ou falta de vontade? Qual foi a última vez que você ficou de pijama sem culpa, disse “não” sem peso, falou “não to a fim” sem medo? Quando foi que você deixou de ser gente boa com você?
Hoje a gente fala muito de responsabilidade afetiva, mas parece que a gente tem confundido isso. Responsabilidade afetiva não é sobre reciprocidade, responsabilidade afetiva não é cobrar que o outro faça aquilo que você queria que ele fizesse, responsabilidade afetiva é sobre sinceridade. É sobre falar o que o outro pode esperar de você e o que ele não pode esperar de você. E aí sabendo o que você pode ou não pode esperar, e aí sabendo o que o outro pode ou não pode esperar, poder decidir se você quer ficar nessa relação ou não relação. Responsabilidade afetiva é deixar as cartas na mesa para que o outro tenha a possibilidade de decidir se ele quer continuar jogando ou não. Responsabilidade afetiva é sobre acordos transparentes e para ter acordos transparentes a gente precisa, muitas vezes, se vulnerabilizar e dizer o que sente. Por isso é tão difícil.
Eu saquei naquele tempo que se eu desse um sentido para minha dor, ela poderia ser mais do que só a minha dor. Eu saquei naquele tempo que dar um sentido para as coisas que acontecem, faz com que cada coisa e cada tempo ganhe um sentido maior, um sentido que pode ser sagrado.
Como você está?, ela perguntou. E eu respondi: estranhamente calma, Renata. Estranhamente calma. Nos minutos seguintes tentei explicar o que era aquela sensação...aquela sensação de estar com a alma boiando na superfície da água, mas acabei só dizendo: é uma confiança, Renata...é uma confiança em mim, na vida...é uma confiança...é uma sensação de que vai dar pé...uma hora vai dar pé de novo. Nesse episódio eu conto os caminhos que eu fiz para alcançar um ponto de paz em meio ao caos.
O apego não é um botão que a gente desliga. O apego é mais parecido com um molho de chaves que perdeu a utilidade. As chaves não abrem novas portas, mas a gente ainda segura. E segura porque foram essas chaves que nos deram acesso às casas antigas e, a gente sabe, de algum modo, que se desfazer dessas chaves é aceitar o fim. Acontece que segurar coisas que não servem mais, pesa. Machuca. Exige. E o pior: paralisa a nossa vida. Ocupa espaço. Para desapegar, a gente precisa soltar as chaves, uma por uma, várias vezes, todos os dias. Mas para soltar as chaves, muitas vezes, a gente precisa reconhecer, antes, o que essas portas significavam para gente. E aí, só aí, nos dar a chance de descobrir um novo jeito de seguir. Foi isso que eu precisei fazer aquele dia.
A autocobrança é a voz que grita no meu peito toda vez que eu não cumpro com um ideal. Às vezes ela grita quando eu falho, às vezes quando eu não consigo dar cem por cento, às vezes quando eu me recuso a fazer coisas que a maioria faz, mas que não me preenche, às vezes quando eu não consigo ter o controle de determinada situação, às vezes - e principalmente agora - quando eu descanso. A autocobrança é a voz que não me deixa respirar tranquila. Quando eu deito na minha cama para ver uma série boba, cujo único objetivo é relaxar, o ela diz que eu não me exercitei, que eu não lavei a louça, que eu não fiz as aulas de graça de francês. Para desapertar, eu levanto da cama, deixo a série no meio e faço qualquer coisa - de lavar a louça a costurar aquela blusa que eu só vou usar de novo na próxima encarnação. O importante é fazer alguma coisa, porque a voz da autocobrança não aceita descansos, nem pausas, nem falhas, nem ócio, nem vazio. A autocobrança não pode me ver parar. A autocobrança é
Entre nas relações e saia das relações do mesmo modo que você gostaria que as pessoas entrassem e saíssem da sua vida. Quando essa chave virou, eu nunca mais me envergonhei por ter dito aquilo que eu estava sentindo. E nem por sentir o que eu tava sentindo. Para além do outro ir embora, o que me salvou foi lembrar que eu tava ali, inteira, bancando e honrando aquilo que eu acredito: o amor é simples, fácil, potente e possível...não há argumento que me faça acreditar que ele não foi feito para ser vivido.
Fazia tempo que eu não acordava e ficava olhando o teto até ele ficar cada vez mais branco. Fazia tempo que eu não deixava o meu corpo acordar sozinho, assim devagar, no meu dia de folga. Fazia tempo que eu não sentava na cadeira da cozinha com uma xícara de chá e com o olho pousado sem pressa no prédio da frente ia vendo as janelas mudarem de cor. Apagada, apagada, acendeu, acendeu, apagou, ligaram a teve, alguém apareceu na varanda. Fazia tempo que eu não esperava na fila do supermercado sem tentar distrair o meu tédio. Sustentando meu tédio. Fazia tempo que eu não lembrava que tá no silêncio que a gente não faz a maior parte das respostas que a gente procura. Fazia tempo que eu não dizia para minha angústia: essa pressa que você quer nas coisas não existe nas coisas da vida real. A vida real tem o próprio tempo e sendo você o tempo, você também.
O processo do luto não é linear, nem reto, nem plano, nem um caminho só para frente. Por muitas vezes, acordei e tive a sensação de que tudo que eu tinha andado, não existia mais. Dor absoluta como a primeira vez. Por muito tempo, parecia que a minha vida tinha sido envolvida por um véu cinza. Nada mais tinha cor, nem forma, nem sentido. Tudo tinha perdido a razão. Eu fazia compras, e ia trabalhar, e amoçava, e tomava banho, e parecia que nada me preenchia mais. E por isso, era impossível de acreditar naquela mensagem que eu tinha recebido logo no dia seguinte. Ela dizia: "agora parece impossível, mas uma hora a vida volta a ter cor." E hoje, eu posso dizer: demora. Demora um tempo. Demora bastante, mas volta, mesmo. Realmente volta. A sensação é que a gente foi quebrado ao meio e que não há cola capaz de juntar os pedaços. Mas a vida é soberana. Superior. Teimosa. E uma hora, a gente consegue acomodar o novo mundo dentro da gente e ser feliz de novo. Disso, eu tenho certeza.
Eu sempre temi esse momento. De acerto em acerto, de aplauso em aplauso, de reconhecimento em reconhecimento, eu comecei a ter medo da falha, quase como se ao deixar que ela acontecesse, tudo desmoronasse. Criei, assim, uma autocrítica afiada. Era, antes de tudo, a minha própria chefe. O que eu tinha medo, era de perder. De perder o que eu tinha conquistado. Quase como se todo o meu valor tivesse posto a cada ação. Errou? Falhou? Perdeu tudo. Tem gente que manifesta esse padrão nas relações, tem medo de dizer uma palavra errada, um comentário inadequado e ver aquela pessoa indo embora. Então se esforça, o tempo todo, para agradar. Tem medo de perder a imagem da pessoa ideal, escolhida, especial. Mas naquela semana, mesmo depois de me esforçar muito, eu estava lidando com o meu maior medo: o medo de não agradar. Entrei na sala de reunião, peguei o telefone e com a voz tensa, disse: “alô?!” É difícil me esquecer da sensação que invadiu o meu corpo quando ele falou: "É
Quando eu atravessei o portão branco, minhas costas contraíram de tensão. Ser livre, então, era isso: ser responsável pela própria vida, pensar com a própria cabeça, assumir as próprias decisões. Ser melhor, então, era isso: revisitar as definições oferecidas. Questioná-las. Não dar o mundo como visto, antes de vê-lo, de senti-lo, de experimentá-lo, de enxergá-lo com os próprios olhos. Dar às coisas, os próprios nomes. Ser dono da própria história era, então, bancar os caminhos do próprio coração. Era ser capaz de sair do carro, dizendo: “me deixa tentar. Se der tudo errado, eu assumo. Eu preciso tentar.” E, mesmo sem saber, e mesmo sem querer, e mesmo sem prever, ser o assunto da conversa e (da mudança de perspectiva) do meu pai, vinte anos mais tarde. Naquele dia, eu revisitaria aquele tempo e, diante de outra questão, lembraria: é preciso sair das macrodefinições...para conhecer algo, muitas vezes, é preciso, antes, desconhecer.
Eu tinha imaginado uma outra coisa para aquele momento. Eu imaginava que eu ia entrar naquela sala com a cabeça erguida, o tronco ereto, a voz firme. Mas, de repente, eu estava com as mãos afundadas no rosto, dizendo: “eu não acredito que eu perdi o controle das minhas emoções, eu não acredito.” Para alcançar a cura, a gente precisa, antes, aceitar que adoeceu. Para superar o término a gente precisa, antes, aceitar que o amor não aconteceu. Para fazer as pazes com a nossa história, a gente precisa, antes, aceitar, tudo o que aconteceu. E aí, só aí, estaremos prontos para transformar: a vida e a gente.
Ali, sentada, olhando para aquele muro, uma sensação de completude esparramou no meu peito. Uma sensação de que eu estava me reconciliando, de novo, com o tempo: ele passa. As coisas passam. Tudo se transforma. Mas uma coisa permanece: a decisão de ir comigo, no meu passo, do meu lado, na minha companhia, até o fim. Talvez, então, equilíbrio seja isso, não é sobre não cair, mas sobre aprender como se levantar.
O que a gente deveria problematizar não é a intensidade dos intensos e nem a não-intensidade dos não-intensos, mas como artimanhas, os jogos e as armadilhas que a gente constrói para gente mesmo para não viver o amor, para não se permitir sentir. Tá tudo bem ser intenso. Tá tudo bem em não ser. O que não tá, é se espremer para caber. Ou fingir que não sente para se vangloriar.
Eu fiquei com vontade de dizer pra aquela pessoa, tudo que eu aprendi, quando eu afundei na areia movediça. E o que eu aprendi foi que eu preciso ser capaz de frustrar as pessoas, de vez em quando, inclusive as que eu mais amo, porque se eu não for capaz de fazer isso, eu não serei capaz de respeitar os meus limites. Se eu não for capaz de frustrar as pessoas, eu também não serei capaz de atender as minhas próprias necessidades quando eu preciso. Se eu não for capaz de frustrar as pessoas – inclusive as que eu mais amo – eu sempre vou sair em momentos que eu queria ficar em casa, dizer “sim” paraquela coisa que meu corpo inteiro tá gritando que é “não”, responder àquela mensagem bem naquela hora que eu tinha combinado comigo mesma de mergulhar em silêncio. E isso não tem a ver com ser egoísta, mas com a convicção de que eu só posso ser presente, verdadeiramente, na vida do outro, se antes eu puder fazer isso por mim mesma.
Às vezes a gente se matricula na aula de dança hoje e já quer ser o melhor da classe amanhã, às vezes a gente se matricula na aula de línguas ontem e já quer ser poliglota no dia seguinte, às vezes a gente lança um projeto anteontem e já quer que daqui a pouco seja um sucesso, às vezes a gente entra na sala da terapia com um problema de anos e quer sair curado em uma hora, às vezes a gente espera coisas da vida que a vida não pode dar. Eu não percebi na hora, mas o que a Elza estava me dizendo era isso: esse milagre que você quer, a gente vai ter que fazer acontecer juntas, um dia de cada vez, um passo depois do outro, com muita paciência, com muita generosidade, com muita gentileza e com muito cuidado. E talvez demore. E se você quiser realmente isso, você vai precisar abrir mão da pressa.
No primeiro ano da faculdade, o professor contou uma história: “se um cachorro morde uma pessoa, não é notícia. Mas se a pessoa morde o cachorro, aí é”. Antes de gravar esse episódio, lembrei dessa história e me perguntei: por qual razão algo tão banal, comum, rotineiro, como fazer uma comida, sentar à mesa, olhar a textura do macarrão, mastigar com calma, sentir o gosto, engolir sem pressa, valeria um episódio nesse podcast? E a resposta foi uma constatação: porque eu tenho me esquecido dia após dia a importância disso.
Segurança, para mim, tem a ver com o lugar em que a gente coloca a nossa âncora, sabe? Âncora para mim é a representação da nossa verdade, da nossa intuição, da nossa auto percepção e da nossa sustentação. E às vezes, de tempos em tempos, eu preciso me perguntar, por onde anda a minha âncora. Nessas buscas, tem sido natural perceber que em dias de insegurança, ela tá sempre longe da minha essência, da minha verdade e daquilo que, verdadeiramente, importa para mim.
Eu sempre acho que dá para ir mais um pouco, fazer mais um pouco, entregar mais um pouco, trabalhar mais um pouco. Tenho dificuldade com as pausas, no fundo, acho que elas adiam o destino. Mas isso está mudando, porque, aos poucos, tenho aprendido que aprender a descansar é o que muitas vezes sustenta o caminho.
As cercas são ótimas para dar contorno e segurança, mas elas não fazem só isso. As cercam nos privam de viver coisas novas, de experimentar novos espaços. Às vezes a gente cresceu, a vida cresceu, as coisas mudaram, e a gente não se permite crescer, mudar e expandir junto com a vida, porque elas não deixam. A gente mesmo não se deixa. E aí é preciso lembrar que uma experiência ruim não precisa definir a nossa vida inteira. Uma percepção sobre a vida não precisa ser a mesma até o fim dela. Inteireza, para mim, tem sido cada vez mais isso: me permitir ser tudo que eu posso ser. E chamo isso de inteireza, porque eu sou as minhas rejeições, mas sou também todas as vezes em que eu fui amada. Eu sou os meus tombos, mas sou também todas as vezes em que eu acertei o passo. Eu sou as minhas raízes, mas sou também as minhas asas. Eu sou as minhas dores, mas também sou a minha cura. Mas pra me reconhecer em todos os meus tamanhos, em todas as minhas versões, eu preciso me deixar ser tudo que eu
Acho que um dos exercícios mais importantes para quem trilha a jornada do autoconhecimento é se perguntar: o que eu quero com aquilo que eu quero? Porque às vezes a gente não quer ser astro de rock, a gente só quer ser popular. Às vezes a gente não quer ser monge, a gente só não quer sofrer tanto. Às vezes a gente não quer uma relação, a gente só quer ter alguém pra levar na festa. Às vezes a gente não quer se isolar, a gente só não quer lidar com a rejeição. E embora seja incômodo esse autoquestionamento, ele pode, certamente, nos levar mais para perto da gente mesmo. . . . A edição é do @valdersouza1 a identidade visual da @amandafogaca e os textos/histórias/voz minhas, @natyops posso te pedir uma gentileza com jeitinho? Se você gostar, você manda para alguém que você ama? ❤️
Eu não sei você, mas eu não tenho um colete a prova de balas de comparações. Eu me comparo. E vejo a minha energia escorrer para fora do corpo, como uma torneira aberta, toda vez que eu faço isso. Mas na semana passada, eu me dei conta de uma coisa importante: a comparação não é só inútil, ela é também perigosa, porque nos arrasta para longe do único lugar em que a gente pode ser significativamente feliz: a nossa vida.
Eu não sei se você já sentiu isso. Mas uma vez eu entrei no consultório da Renata confessando uma apatia, um bode interno, uma sensação de que nada poderia me surpreender com tanta força mais. Um sentimento de que tudo tinha virado domingo à tarde, vendo Faustão, sabe? Uma mornidão, uma preguiça, uma previsibilidade grande, um segunda a sexta paga boleto, responde e-mail, não perde o ônibus, recolhe a correspondência. Uma parada sem muita expectativa. Eu não lembro exatamente o que aconteceu depois daquelas semanas, mas eu voltei a pensar nisso nesse domingo, enquanto eu experimentava uma alegria leve por perceber que, talvez, o problema de anos atrás não estivesse na vida, mas no modo que eu olhava para ela.
Eu lembro que eu respirei fundo antes de entrar na sala do meu diretor para pedir demissão. O medo de pisar com os dois pés em um lugar desconhecido, tava ali, comendo meu corpo por dentro. Surpreso, ele me pediu mais detalhes do programa que eu tava pronta para migrar e disse, num tom paternal, para eu pensar com calma, já que novos projetos são sempre incertos. Não dava para ter certeza do que aconteceria. Eu lembro que eu senti mais medo ainda, porque todos os alertas dele me pareciam ser sobre perigos reais, mas algo dentro de mim não me deixava desistir. Com o choro entalado na garganta, falei: “eu agradeço e concordo, mas eu preciso tentar.” O que aconteceu depois, ninguém esperava. . . . Identidade visual: @amandafogaca // edição @valdersouza1 // texto e voz: @natyops
Hoje eu me peguei pensando nisso: quantas vezes eu não disse o que eu queria dizer, não fiz o que eu queria fazer, não demonstrei, não me manifestei, não fui quem eu queria ser em nome de uma regra que eu mesma criei - ou que me ensinaram - e que eu não tive coragem de quebrar. Quantas vezes eu me transformei em algo sem marcas, sem rastros, sem nome, sem identidade, sem pulsão, sem emoção...quantas vezes eu deixei de escrever a minha própria história, de viver a minha própria história por medo da rejeição.
Têm semanas que eu emburreço propositalmente. Não me atualizo nas notícias que não são da minha área de atuação, não me aprofundo nos assuntos da semana, não leio artigos importantes, não vejo os filmes recém lançados que são imperdíveis, não sintonizo nas pautas urgentes, não me esforço mentalmente para ouvir todos os lados de um mesmo assunto para que aí eu tenha uma visão clara da questão. Nessas horas, respeito o meu cansaço, e volto de novo pro banco da quadra, quando eu tinha dez anos. Éramos quase vinte crianças tentando disputar a melhor ideia para fazer o jogo acontecer. Em determinado ponto, a turma se dividiu. Metade defendia um jeito, metade o outro. Como crianças saudáveis de dez anos, os dois gritavam, sem trégua. Mas diferente das outras vezes, em que eu sempre tentava convencer os outros do meu ponto de vista, naquele momento, me pareceu que a melhor ideia era sentar no banco e esperar que eles se decidissem. Aquilo não era importante e me
Um dia, durante uma consulta de terapia, quando eu falava sobre a minha decisão de não assumir um desafio profissional que a maioria das pessoas com quem eu convivia no meu trabalho da época queriam, a Renata me disse: “tudo que se destaca vira alvo, Natália. Tudo que se destaca vira alvo.” Eu não demorei muito para perceber que o destaque ao qual a Renata se referia, muitas vezes, não era sobre algo extraordinário, mas sobre bancar uma decisão de ser aquilo que, para gente, faz sentido ser. Ou não ser. Mas tinha algo que eu só aprenderia mais tarde e é: pior do que o julgamento do outro, é o nosso autojulgamento. É por aí que vai a nossa mesa de bar dessa semana. Você vem? Eu amo quando você diz que “sim”. ❤️????00:01 no @spotifybrasil e no @deezerbr quem cuida da edição é o @valdersouza1 quem cuida da identidade visual a @amandafogaca um beijo, @natyops
Comunicar o que sente é difícil na maioria das vezes, mas vale a pena. Se eu sei as regras do jogo, fica mais fácil jogar. Fica mais fácil respeitar. Fica mais fácil contribuir com a jogada, aplaudir no momento certo. E aí com a minha transparência e com a sua, a gente pode encontrar um meio do campo. Um denominador comum. Aquele momento em que a jogada de um é perfeita para o outro. O mais legal do despertar para esse processo, é que ao passo que a gente vai respeitando as nossas regras, fica muito mais fácil e - urgente - respeitar a dos outros. Só tem ganho, mesmo quando a gente perde.
Eu estive na escola da minha infância pra votar. enquanto eu procurava a sessão, eu percebi que a escada que ligava o pátio à diretoria só tinha cinco degraus. isso seria absolutamente insignificante se - naquela época - essa mesma escada não me parecesse tão enorme e desafiadora. seria algo só sem importância se isso não tivesse me causado uma profunda reflexão sobre as escadas da minha vida - aquelas que pareciam intransponíveis e que hoje tem só um tamanho real, tipo, às vezes, cinco degraus. me fez também pensar nas escadas que me parecem muito maiores na minha cabeça e que eu ainda não alcanço. me fez, sobretudo, revistar o passado e encontrar na minha própria história a esperança que eu buscava - insistentemente - para o futuro. Me fez ancorar em paz.
Expectativa é sempre um molde que a gente costura pro outro, mas que prende a gente mesmo. Nesse episódio, eu volto em dois momentos em que isso aconteceu. Em um deles, as minhas expectativas foram destroçadas, feito um prato de vidro que cai no chão, espalhando os pedaços por vários lugares onde a gente não alcança. No outro, criou várias frestas numa imagem que eu julgava firme e infalível. Em ambos os casos, me restou uma coisa grande e nova: a descoberta do lado bonito das coisas que não acontecem do nosso jeito.
Aceitar o que a gente sente é tipo cuidar das rachaduras da casa que a gente mora, sabe? É preciso olhar, aceitar, reconhecer pra não colapsar, para a estrutura não ceder, para o teto não cair na nossa cabeça. Porque eu não sei se vc sabe, mas casa e corações abandonados colapsam, desabam, desmoronam. E esse é outro lembrete: sentimentos difíceis não somem quando são negados, mas podem ganhar um outro significado quando são vividos, sentidos, elaborados.
Eu acho que perdão não tem a ver com absolver ao outro, mas desconectar o nosso coração daquilo que nos feriu.
Acho que as pressões estéticas começam a perder força na nossa vida, quando a gente tira o carimbo de aprovação da mão do outro. Eu descobri isso, numa noite, em que eu saí de casa me sentindo gata e voltei duvidando da minha sanidade. Para começar a desatar esse nó, eu tive que voltar léguas atrás e responder algumas perguntas: em quais lugares a minha imagem ganha mais peso do que a minha sensibilidade? Para quem, com quem, em quais ambientes a minha ideia sobre mim é questionada? Quantas pessoas, hoje, eu tenho na minha vida - e no meu feed - que lutam contra esse padrão estético de beleza irreal e não a favor dele? Em quais situações esse assunto que não é um valor para mim, vira um valor para mim? Esgarçar o padrão de beleza que me foi ensinado, me deu impulso para questionar quem me questiona. Essa pessoa está falando de qual beleza? O que é beleza para essa pessoa? Eu sou capaz de ver beleza quando ninguém vê? Eu não sabia, mas esse era só o começo d
Tenho aprendido com o meu próprio corpo a questionar as minhas armaduras, a deixar que a minha pele, as minhas versões, as minhas ideias, os meus caminhos se renovem. A soltar o velho, a abrir-me ao novo. Tenho trocado de pele, de caos, de caminho. E nessa troca, concordado com a frase que ecoou na minha cabeça, horas depois do último show na pré-pandemia, e era: “é tudo novo de novo.” Mas para ser, eu percebi: existe um grande caminho. segue a gente nas redes: @paradarnomeascoisas
Parece romântica a narrativa. A pessoa leva vários nãos, mas no fim do sexto capítulo ganha um beijo e uma declaração de amor que faz a gente suspirar tranquilo na sala do cinema – ou de casa – e acreditar que se a gente aguentar só mais um pouquinho, o final feliz também vai bater à nossa porta. Como se o amor fosse o fim de uma trajetória de sacrifícios, uma medalha pela resistência alcançada, um prêmio pelas abdicações concedidas. Como se o amor precisasse ser suado para ser merecido. Como se o amor fosse uma luta, uma prova de força, uma trilha de obstáculos, um cabo de guerra, uma batalha com nocaute e não uma parada que é boa. Não sei se teve mais alguém que se incomodou com aquilo, mas eu fiquei com vontade de escrever para o autor que não tem final feliz, quando a gente não está feliz. Se o preço do amor é a dor, acredite: não é amor.
Esses dias, vendo "This is Us" uma das personagens disse para mãe: “eu só queria que alguém me dissesse que a minha decisão está certa”. Ela estava vivendo um processo longo, difícil, desafiador, cujo apoio das pessoas próximas era raro. E inconstante. Quando ouviu o lamento, a mãe só deu um sorriso contido e apoiou a cabeça no encosto do carro em silêncio, como se dissesse: “ninguém pode te dizer isso, porque a vida é sua e quem está segurando o mastro do navio é você”. Os capítulos seguiram, mas eu continuei sequestrada por essa cena, porque ela me lembrou da vez em que eu mandei um e-mail urgente e angustiado. E o que seguiu depois, me fez crescer de um jeito completamente inesperado.
Lembro da Eliane Brum falando sobre isso em um texto. Já comentei disso aqui. Ela trabalhava há anos na Revista Época, mas chegou um momento que ela entendeu que ali não era mais o lugar dela. Queria mudar. Lembro dela dizer neste texto que ela não queria saber como seria a vida nos cinco anos seguintes, então ela precisava mudar o que ela tinha feito nos últimos dez. Então, ela foi e pediu demissão para fazer algo que ela ainda não sabia o que era, mas estava disposta a descobrir. Acontece que, antes mesmo de tentar, algumas pessoas insistiam, ainda que veladamente, para que ela confessasse uma saudade da vida anterior. A mudança dela, os incomodava. E quando algo nos incomoda muito no outro, é bem provável que aquilo não seja sobre o outro, mas sobre a gente. Nem todo mundo se dava conta disso e a criticavam. E lidar com crítica é desconfortável. E, de verdade, eu não sei se um dia deixa de ser. Mas o que eu sei é que dá aprender coisas muito legais sobre a gente, mesmo, quando ela a
Em tempos em que todo mundo pode editar, costurar, recortar a própria vida e só mostrar o melhor, é muito fácil acreditar que o negócio tá fora. É muito fácil esquecer que toda mudança significativa, só é, de fato, efetiva, quando ela acontece do lado de dentro. E é, justamente, por isso que eu amo autoconhecimento. Porque o autoconhecimento me chacoalha quando eu preciso e me lembra que o grande lance da vida não é encontrar um lugar confortável do lado de fora, mas abrir esse espaço do lado de dentro. Que tal apoiar a gente? redeamparo.com.br/amp
Uma vez, numa conversa, uma moça me disse algo mais ou menos assim: "a sensação que eu tenho, é que a minha autoestima é uma mesa, só que é uma mesa de três pernas. A quarta perna que me falta, eu fico buscando nas minhas relações. Quando encontro alguém, eu coloco a relação no lugar da quarta perna. Então estabeleço uma relação de dependência com aquela pessoa, sufoco, me excedo para que ela não vá embora, porque se ela for, eu volto a ser uma mesa de três pernas". Ela me disse isso logo depois do episódio sobre autoestima que tem aqui nesse podcast. Eu achei foda essa imagem que ela trouxe, porque muitos processos de ressignificação, de despertar, de cura passam por esse lugar: o de dar forma àquilo que a gente sente. Mas essa conversa ficou no passado, pelo menos eu achei que tinha ficado, até que a imagem da mesa de três pernas estacionou numa sexta-feira quase noite na minha cabeça. E quando estacionou, eu entendi bastante coisa sobre aquele momento. . . . Edição @valdersouza1 ide
Tava todo mundo produzindo. Fazendo academia no quarto, escritório na sala, aula de inglês na cozinha, tocando violino na varanda. Eu não. Eu tava ali, virando de posição na cadeira, tentando e fracassando na entrega de um texto que já estava atrasado. No décimo gole de café, uma música começou a tocar na rua de cima. Por cima dela, um cara disse: “essa vai para a fulana de tal”. Na primeira música, eu lembrei que o prazo não era tão urgente e, quando eu vi, eu tava ali debruçada na janela de casa, acendendo e apagando a luz do apartamento como o moço do microfone tava pedindo. De repente, eu era parte de um pisca-pisca infinito e desconhecido. Éramos coro numa declaração de amor em vida que durou quinze minutos, mas ainda me ecoa nesse março do ano seguinte. Naquele dia, no meio de uma pandemia que só estava começando, eu ia aprender que as pequenas coisas não nos leva pra grandes lugares, mas nos dão sentido para atravessar os dias difíceis. Edição @valdersouza1 identidade visual @am
Eu lembrei de uma conversa que eu tive com um grande amigo anos atrás. Depois de contar para ele sobre uma saia justa que eu tinha vivido, ele me disse: "eu acho que você deve deixar esse constrangimento para quem o causou". E isso me marcou de um jeito fundo, porque ele tinha razão. Hoje, anos depois, vendo o "BBB", talvez seja isso que eu gostaria de dizer para Carla: "deixe o constrangimento para quem o causou. Deixe o constrangimento para quem não foi verdadeiro, sincero, honesto com você." E quando sair da casa, e quando se der conta de que poderia ter rompido antes, mergulhe nisso. Se pergunte, se questione, se entenda, use isso pra crescer, mas escape desse constrangimento que tentam colocar em cima de quem já está lidando com uma situação suficientemente desestabilizante. Olhe para isso, mas não assuma um constrangimento que não foi você que causou." E quando fizer isso, perceberá o quanto pode ser grande. E livre chama oszamigues e vem? te espero 00h01 no @deezer @spotify e ag
A existência pode ser maior do que um conjunto de coisas conhecidas.
Vulnerabilidade, para mim, é aquele quarto bagunçado que a gente tranca quando a visita chega, sabe? A gente sabe que ele existe, mas a gente não quer que ninguém veja, porque ele é o símbolo que a gente não é tão perfeito, tão alinhado, tão ajustado, tão descolado, tão descontraído ou tão organizado quanto a gente se diz ser. O quarto bagunçado, a gente pensa, ameaça à nossa imagem. Então quando a visita chega, a gente o tranca e finge que ele não existe. E esse é o problema: fugir do nosso quarto bagunçado não nos deixa mais fortes, pelo contrário, nos priva de viver a vida de um jeito inteiro. . . . identidade visual: @amandafogaca * texto @natyops * edição: @valdersouza1 sigam a gente no Instagram: @paradarnomeascoisas Apoie o nosso podcast: www.redeamparo.com.br/amp
Esse é o mar de agora, navegue do jeito que der. Foi essa frase que eu anotei no bloco de notas do celular domingo de manhã. Enquanto eu tentava achar um brócolis com cor de brócolis, na minha cabeça tava rolando o sexto disco da autocobrança futebol music – uma banda de um hit só que canta todas as noites que eu deveria ter feito mais, que eu deveria ter rendido melhor, que eu deveria ter passado mais tempo no sol, porque, sim, além de me cobrar produtividade na produtividade, minha autocobrança me cobra produtividade no ócio. Acontece que eu tava num dia bom e, quando minha cabeça começou a terceira lista de deveres não cumpridos, eu me disse: Natália; esse é o mar, navegue do jeito que der. E aquilo para mim foi importante demais, porque se a realidade de hoje é um mar revolto, para conseguir navegar bem, eu preciso olhar para os pesos do meu barco. Segue a gente no Instagram: @paradarnomeascoisas
Depois de toda dor genuína, ficou só um ego ferido. O misto de tristeza e raiva que me invadiam depois daquele meio dia, não eram mais causados pelo sofrimento inicial, mas pelo ressentimento de não ter sido escolhida. Nem era mais sobre o outro, era só uma mini revolta por sentir que não tinham confirmado a imagem que eu, mesma, cultuava de mim.” Texto: @natyops identidade visual: @amandafogaça edição @valdersouza1 • Apoie a nossa mesa de bar: www.redeamparo.com.br/amp
A primeira vez que eu senti aquela frustração eu tinha uns dez anos. Eu estava brincando na gangorra e sopraram no meu ouvido que a Gabriela tava chorando. Antes de entender exatamente o motivo, eu saí correndo, largando a minha brincadeira, e fui ao encontro dela, decidida a “resolver” aquela tristeza. Ela tava sentada no banco da quadra e me contou que tinha brigado feio com o irmão e, por isso, tava muito triste. Eu ouvi tudo e despejei todas as boas palavras que eu tinha para cumprir a missão Impossível que eu me dei antes de descer do balanço: arrancar um sorriso do rosto da Gabriela. Mas mesmo depois de me sentir esgotada, ela ainda continuou triste e eu, de um jeito novo, frustrada. A minha versão de dez anos não sabia, mas a mesma cena aconteceria algumas vezes anos mais tarde para que eu percebesse o lado não dito da jornada dos heróis: eles não reconhecem os próprios limites.
Me dou alguns silêncios. É sempre na ânsia de calar a minha voz interna, mas sempre acontece o contrário. Depois de um tempo, escuto mais. É aquela coisa do quarto escuro. Quando a gente entra, parece muito, muito escuro, mas depois as coisas vão ganhando formas. A cadeira, a cômoda, o armário. Tudo sempre esteve ali, mas no escuro e no barulho, a gente não vê. e não ouve. tudo parece breu. então é preciso tirar um tempo interno para conseguir enxergar as coisas que sempre estiveram ali, mas se perderam no barulho. o silêncio é assim para mim, tipo um quarto escuro, mas clareia.
Nossa ideia de amor adora uma fantasia. E com ela é muito melhor sonhar com alguém que vai chegar num cavalo branco, num exame de DNA ou numa promessa de almas entrelaçadas do que arregaçar as mangas e tentar construir uma relação com quem tá ali. Histórias mágicas negligenciam uma verdade simples, mas decisiva: relações saudáveis são muito parecidas com plantas vivas, elas demandam atenção, cuidado, paciência e vontade, coisas que a sombra de um amor produzido nos contos de fadas não permite a gente assumir. segue a gente nas redes: @paradarnomeascoisas | Que tal apoiar a gente?: https://www.redeamparo.com.br/amp
Todo mundo tem um eu ideal. E o nosso conflito nasce quando a gente, de repente, se dá conta de que a gente não corresponde a ele. segue a gente nas redes: @paradarnomeascoisas | Que tal apoiar a gente?: https://www.redeamparo.com.br/amp
Esses dias, tomada por um cansaço existencial, eu fiz uma lista das coisas que eu queria me desprender. Enquanto escrevia, eu escutei um sussurro que dizia: "agora coloca esse papel em um copo com água." Levantei e fui para cozinha, sem saber exatamente o porquê. O copo seguiu intacto e eu demorei três dias para entender. O papel não se dissolve no primeiro contato com a água. As minhas ânsias, os meus desejos, as minhas pressas, angústias e ansiedades também não. Para algo rígido se desfazer, leva tempo. A gente também.
Esses dias eu peguei o meu caderno no fundo do armário e percebi que a folha de adesivos, aquela que tem na primeira página, está quase inteira, eu não usei. E isso me levou pra adolescência, porque na adolescência ninguém usava os adesivos da primeira folha, tinha que ter um momento especial. Acontece que quase sempre esse momento especial – que tinha a cobrança de ser muito especial – não acontecia ou quando acontecia, a gente esquecia que era especial e não colava o adesivo lá, na folha. E aí chegava o fim do ano e o caderno ia para gaveta ou pro armário ou para embaixo da cama e a gente perdia todos os adesivos especiais, sem perceber o momento de usá-los. E dava uma sensação de desperdício, de atraso, de pq eu não colei antes? quase sempre. Eu tenho pensado demais nos meus adesivos. Nesses que a gente vai adiando a hora de usar e, quando percebe, já passou o tempo. E é por causa disso que o episódio de hoje é um convite para você fincar comigo os dois pés no agora. . 00h01 no @sp
Eu não sei o que acontece na Marginal Tietê, eu só sei que quando o trânsito parou, a minha cabeça parou junto. Eu estava de novo abrindo o microfone, pedindo a palavra e falando uma coisa que, minutos depois, eu ia me arrepender. E ia, não pelo que eu tinha dito, mas pela sensação de inadequação gigante que ia tomar o meu peito no instante seguinte. A verdade é que eu tinha calculado mal a profundidade. Eu achei que o chão estava muito mais para baixo do que ele realmente estava. E aí a sensação que veio foi aquela da piada que a gente conta e ninguém ri. Ou daquela declaração de amor que a gente faz e fica no vácuo. Ou ainda daquela coisa profunda que a gente sente, capta compartilha, mas ninguém entende. A sensação foi a de ter dito uma coisa na certeza de que aquilo ia encontrar conexão, mas o que rolou foi só um eco. E deu vontade de apagar, editar, recortar e apagar aquele momento. Mas não deu. E foi só porque não deu que eu consegui traçar um caminho libertador em meio a minha c
Se eu fizesse uma lista dos temas mais pedidos nesta mesa de bar, esse, certamente, estaria entre os cinco. e a verdade é que eu sempre considerei trazê-lo aqui, mas eu estava esperando o tempo da piscina. Você sabe como é o tempo da piscina? Ele tem a ver com aquela imagem de um dia de verão. Dentro da piscina tá a vizinha de cima, o vizinho de baixo, o seu primo de terceiro grau, a sua amiga da escola, aquela colega de trabalho. Para eles, a água tá na barriga, na canela, no ombro, no cotovelo, mas para você, não dá pé. E aí – sentado na beirada da piscina – você tem que fazer uma coisa que é difícil – e importante: olhar para a sua própria história e assumir que o teu processo é único. E que o tempo dele também é. Para fazer esse episódio, eu fiz uma escolha bonita: eu esperei o tempo da piscina. Eu esperei a água bater na minha barriga. Eu esperei dar pé. E deu. E agora, eu quero te fazer companhia nessa espera, independentemente de qual seja o teu processo ou teu lugar na piscina
Teve um tempo em que eu dizia “não” para muitas coisas, porque eu sempre achava que eu não estava pronta. E aí teve um dia que eu comecei a me dar conta dessas armadilhas que eu mesma criava para mim e, ao longo de um processo intenso de autoconhecimento que nunca acaba, eu comecei a dizer “sim” para as coisas que antes eu dizia “não’. Só que aí, eu percebi que tinha um terceiro degrau dessa escada, que era o melhor de todos. O terceiro degrau é aquele em que a gente sai da imposição do “sim” e do “não” para viver a liberdade que mora entre essas duas palavras. No terceiro degrau, a gente tem a chance de discernir o que a gente, realmente, quer encarar, viver, elaborar, dizer sim e aquilo que, mesmo que tenha uma torcida a favor, a nossa resposta é “não”. Mas eu levei um tempo para entender isso. E a busca por essa compreensão, me fez encontrar várias outras coisas nessa escada. Que tal apoiar o @paradarnomeascoisas? www.redeamparo.com.br
Muitas pessoas que já me incomodaram profundamente, hoje são só uma fotografia desbotada no fundo do armário. Várias paixões que eu achei que fossem me engolir, hoje forçam a minha memória: qual era mesmo o nome? Várias amigos com quem dividi o choro e ri a mesma alegria, hoje não sei como estão. Várias situações que pareciam ondas de dois metros, hoje não passam de poças d'água. A vida passa, a gente passa, e tudo passa também. Ver as minhas fotos antigas me faz olhar com mais ternura para o presente. E saber: isso aqui - tudo isso aqui - um dia vai passar também. Que bom. E que pena. Que tal apoiar a gente? www.redeamparo.com.br/amp
Um dia, durante um café, uma amiga me contou a história de uma professora. todos os anos ela entrava na sala de aula e promovia uma experiência que poderia mudar o olhar - e a postura diante da vida - daqueles alunos. minha amiga, que tinha acabado de entrar na escola, ficou encantada, e me disse: “como é que essa mulher não está na capa de um grande revista? Ou na manchete de um grande jornal? Ou viralizada nos grandes portais?” Eu não soube responder a pergunta, mas aquela conversa me fez mergulhar numa reflexão importante, que foi: em tempos de algoritmos, é urgentemente necessário diferenciar popularidade de relevância. Porque há pessoas extremamente relevantes, que nunca tiveram mais do que dez curtidas na sua rede social preferida ou que mudaram o mundo, mesmo sem ter um post bem curtido no Instagram. A história nos dá bons exemplos disso, mas não raro, a gente confunde as duas coisas. Texto @natyops Identidade visual: @amandafogaca edição @valdersouza1 Apoie a nossa mesa de bar
Na minha casa tinha uma grande estante de madeira. Um dia, minha mãe chamou todo mundo na sala e, com a voz firme, disse: “o que não serve mais, vai pra doação”. Enquanto os livros iam para caixa, eu ia sentindo uma dor funda no corpo. Mas não era por causa dos livros, era porque a sala, aos poucos, estava ficando diferente do que eu conhecia. E, aos dez anos, eu amava coisas conhecidas. Aos 34, também. Mas na última semana, durante uma meditação, eu me dei conta, mais uma vez, que a vida é fluxo. E lutar contra ele é tipo manter um livro que não faz mais sentindo na estante. Pesa, ocupa espaço e não deixa novas experiências chegarem para gente. Apoie a gente: www.redeamparo.com.br/amp
Eu não sei se tem comprovação científica para isso, mas eu sinto que a vida, vez ou outra, dá umas reprisadas em alguns capítulos da nossa história para ver se, dessa vez, a gente vai reagir de outro jeito. É aquela situação que você já viveu – ou que é muito parecida com algo que que você já experimentou. – e que de repente tá ali, acontecendo de novo. Se repetindo. Às vezes os personagens são outros, o lugar é outro, o enredo é outro, mas toca no mesmo lugar do seu corpo. Cutuca naquela mesma ferida que fez você fugir. Ou mergulhar de cabeça. Ou fingir que não era com você. Aquilo parecia ter ficado para trás, mas de repente a vida tá lá, com a mão no controle remoto, nos colocando na mesma situação. E o que resta saber é: agiremos do mesmo jeito? Ou faremos algo completamente diferente do que já fizemos? As respostas para essas perguntas, na minha vida, tiveram a ver com o tema de hoje. edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops • que tal apoiar a gente? www
Por causa das nossas projeções a gente arruma brigas, se apaixona, rompe relações, cria conflitos, se mete em ciladas, recebe indiretas que nunca foram para gente, pede desculpas por problemas que só existem na nossa cabeça e – muitas vezes – se coloca no centro do universo. A má notícia é que não tem como viver sem projetar e a boa é que quanto mais a gente se conhece, se percebe, mergulha dentro de si, se observa em profundidade, mais fácil ou mais rápido a gente consegue perceber as nossas projeções e separar o que é da gente e o que é do outro. E é essa chave que nos ajuda a bater a seta para esquerda e sair de uma confusão que a nossa própria mente desenhou. E projetou. Que tal apoiar a gente? www.redeamparo.com.br/amp • segue a gente no Instagram: @paradarnomeascoisad
Amanda me contou esses dias que o pai dela tem uma horta. A tradição começou com o avô que, todo fim de domingo, levava os filhos para pegar pé de alface, de couve e um punhado de mandioca. A horta é um dos jeitos do pai dela se conectar com quem foi o avô e com o que ele deixou. Ela estava me contando isso, quando me falou de um imprevisto grande que aconteceu numa plantação de alface que o pai dela fez e isso que era só sobre algo muito distante da minha realidade, virou um aprendizado fundo sobre controle, ansiedade e esperança. Edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops • que tal apoiar a gente? www.redeamparo.com.br/amp
Eu demorei para entrar no consultório da Renata dizendo, com franqueza e leveza, que eu estava com inveja. Assim como boa parte das pessoas vivas, eu aprendi que entre os sete pecados capitais, tinha um que eu não podia assumir de jeito nenhum, e era esse. Até porque assumir que a gente tem inveja, é como perder a identidade: você deixa de ser filho, irmão, sobrinho. Deixa te der uma cor preferida, uma profissão, um rg, um signo, uma porção de complexidades e de subjetividades para se tornar uma coisa só: invejoso. E aí, como toda coisa que a gente teme - e joga no fundo do armário - a gente vai transformando a inveja num monstro de oito cabeças, sete pernas e vinte flechas capaz de destruir tudo, quando, na verdade, é um sentimento como qualquer outro e que, embora desconfortável, pode revelar um monte de coisa sobre a gente mesmo. .Texto: @natyops edição: @valdersouza1 identidade visual: @amandafogaca
A solitude para mim não foi um acontecimento. Ela começou com uma dor, virou uma meta, passou por uma construção e, por fim, virou uma descoberta deliciosa da qual eu não abro mão mais. Porque se solitude tivesse um sinônimo, para mim, ele seria liberdade. A primeira vez que eu experimentei essa sensação de estar só e, ao mesmo tempo, bem acompanhada, eu tinha uns 15, 16 anos. Eu lembro de pouca coisa naquele dia, mas não me esqueço da sensação que me tomou o corpo quando saltei do ônibus e vi a pinacoteca ali na minha frente. Enquanto caminhava para a entrada, eu sentia que tinha algo especial acontecendo em mim, como uma porta recém-aberta que te apresenta um novo horizonte e, por mais que você o abandone ou não cultive, você não é mais capaz de desver. Uma vez vista, a paisagem se instala no seu peito e faz parte de você, para sempre. Te transforma. Naquele dia, eu percebi que eu era o meu próprio veículo, um veículo completo, e que, por isso, podia me levar para onde eu quisesse.
Eu tinha cinco anos e talvez por isso só lembre do essencial. E o essencial era: um bolo de brigadeiro com bolinhas prateadas cobrindo ele todo. Aquelas bolinhas pareciam uma coisa de outro mundo, o meu bolo também. Tenho 34 anos e o tempo não foi capaz de gastar a sensação que eu tive quando vi aquele bolo na mesa, logo depois da frase: é o bolo do seu aniversário! Anos mais tarde, minha tia me contou que a decoração fazia parte de um disfarce. Ela tinha queimado uma parte grande, porque era a primeira vez que tinha feito a receita, depois de um pedido aflito da minha mãe. Desesperada com o tempo curto e com o imprevisto, ela correu no mercado e comprou aquelas bolinhas para dar um jeito. Quando ela trouxe o bolo para minha casa, ela só conseguia pensar na parte queimada, mas eu não. Eu tinha cinco anos e com cinco anos a gente sabe canalizar a nossa energia para o que importa. E o que importava era: o meu bolo de aniversário era bonito demais. Nem preciso dizer que foi o bolo mais go
O contrário de um plano possível não é um plano impossível, mas um plano ideal. Porque ideal, de acordo com o dicionário, é aquilo que é criado no entendimento ou na imaginação, ou seja: é sempre aquela coisa que é melhor no papel, que funciona mais fácil no planilha, que cabe melhor na agenda, que é perfeito no rascunho. É tipo aquela corrida que a gente fazia na aula de educação física na escola, cê lembra? No primeiro toque da sirene, a gente disparava, acreditando que conseguiria manter o ritmo por todo percurso, mas bastava chegar na segunda parte da quadra para gente descobrir que planos ideais são ótimos para dar impulso, mas a gente só consegue seguir na vida - e na pista - quando a gente se abre para os planos possíveis. É para abraçar a sua versão possível de hoje que o bar abre 00:01 no @spotify. Você vem e traz quem? Conta para gente? edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaça texto: @natyops
Em 2019, eu li um livro em que a autora contava como tinha encontrado o próprio propósito. Na época, eu fiquei com inveja da autora, porque eu ainda achava que propósito era uma coisa que a gente passa a vida tentando encontrar e, quando encontra, é só felicidade. É como um passaporte para a autorrealização, como um ingresso para o time dos que pertencem a um significado maior, como um bilhete de loteria premiado. Naquela época, eu acreditava que propósito era tipo encontrar dez reais andando na rua, tem gente que encontra fácil e tem gente que jamais vai encontrar. E eu queria demais ser a pessoa que encontra. Mas o tempo passou e eu vivi coisas que me levaram a esse lugar, o lugar do dez reais na rua, o lugar do encontro com o propósito, mas, pouco tempo depois disso acontecer, a frase que atribuem ao Veríssimo fez muito sentido para mim e é: “quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.” segue a gente no Instagram: @paradarnomeascoisas #spoti
Acho que confiança é sobre isso. É menos sobre acreditar que tem domínio sobre o mar, sobre a vida, e mais sobre descobrir que você pode aprender a navegar, mesmo que o mar mude. mesmo que o barco afunde. mesmo que o destino, tão desejado, não chegue. Confiança, para mim, é sobre aprender a confiar na sua coragem de se refazer depois dos naufrágios e não há escola que ensine isso. nem teoria que alcance. é preciso se colocar no mar. é preciso se colocar na vida. e rasgar todos os mapas que apontem uma confiança que te compare com outra pessoa. não dá para ser confiante como ninguém, porque a experiência de navegar e de viver é única. o que ímporta é que você acredite que você pode se refazer, mesmo que o mar mude. mesmo que o barco afunde. mesmo que o destino, tão desejado, não chegue. texto @natyops | edição @valdersouza1 | identidade visual @amandafogaca siga a gente: @paradarnomeascoisas no Instagram e @paradarnome no Twitter
Eu não sei você, mas por muito tempo as minhas decisões foram baseadas no clima de fora. O que me fazia dizer “sim” ou “não” era o quanto a minha resposta ia me deixar mais perto da expectativa do outro. Ou seja: se o outro esperava um “sim”, a chance de eu dizer “sim” era gigante. Se o outro esperava um “não”, a chance de eu dizer “não” era gigante. A minha preocupação em agradar as pessoas era tão grande, que eu só ia me preocupar com a minha resposta quando eu já estava lá, me arrumando pra aquela festa que eu não queria ir, enquanto eu fazia uma lista de mental de todas as coisas importantes que eu estava abrindo mão e que iam cobrar um preço mais tarde. A real é que por muito tempo, eu lidei com os meus desejos como aquela janela que corresponde às expectativas dos climas externos. Fazia o que era esperado, guiada pelas estações que aconteciam fora do meu peito e não dentro dele. Mas isso, aos poucos, tem mudado. Te conto mais no episódio que entra 00h01 no @spotify você vem?
Imagina que você mora em uma cidade que não tem angústia, nem medo, nem tristeza, nem vazio existencial, nem dúvida. Na verdade, quando eu digo que não tem, o que eu quero dizer é que ao menor sinal de qualquer uma dessas emoções ou sentimentos, a ordem é que você saque uma pílula colorida mágica do bolso e engula. Você faz isso até sem pensar, como um hábito, que você repete por muito tempo e que você nem sabe, exatamente, quem era você antes dele. No instante que você engole a pílula, todos os sentimentos e sensações que habitam em qualquer peito humano, desaparecem. Você não tem mais angústia, medo, tristeza, vazio existencial e nem dúvida. mas tem mais: você também não tem saudade. Porque saudade é um sentimento exclusivo de quem se comprometeu com a vida, de quem carimbou com o próprio peito a existência, de quem viveu entregue, de quem estava lá, quando estava lá. Saudade só sente quem viveu. é por aí que vai a nossa mesa de bar! cê vem? edição @valdersouza1 identidade visual: @a
Para mim, uma das grandes potências do autoconhecimento não é te fazer livre, como dizem que ser livre é, mas te libertar para que você possa experimentar a liberdade do seu jeito. Hoje eu sei que ter a agenda cheia de contatos não é liberdade para mim, mas viver relações profundas, encarando as minhas vulnerabilidades, assumindo o que eu não sei e compartilhando os meus medos, é. Hoje eu sei que sexo casual, para mim, não é liberdade, mas entrar numa conversa difícil e desconfortante na relação em que eu escolhi estar, é. Mas hoje eu também sei que não existe dez passos para ser livre, nem vento no rosto embalado a vácuo, muito menos liberdade que é igual para todo mundo. O que existe são estradas que fazem - ou não fazem - sentido pro nosso coração e é preciso viver e se observar pra encontrar as chaves que abrem o nosso peito - geralmente elas são únicas. Liberdade para ser - e viver - a gente não terceiriza, mas conhece dentro de si. É por aí que vai a nossa mesa de bar, cê vem? h
Lembro da adolescência, das minhas paixões platônicas. A pessoa passava apertada pra ir no banheiro e eu já achava que ela estava correndo porque tinha ficado nervosa ao me ver. A pessoa coçava a testa e eu já acha que era um sinal pra me mostrar que estava sem aliança. Na idealização, a gente não vê a realidade, a gente não vê o outro, a gente só vê a história que a gente se contou. A notícia boa é que idealização é tipo açúcar, ela se dissolve quando a gente mexe. E mexer, nesse caso, é se movimentar da fantasia pra realidade. Às vezes é duro, mas como diz aquela sabedoria milenar: a verdade liberta. A nossa mesa de bar hoje foi sugerida por vocês
Cem semanas. Setecentos dias. Quantas coisas aconteceram na sua vida nesses últimos dois anos? Quantas vezes você pensou que não ia dar conta, mas deu? Quantas vezes você achou que não ia dar pé, mas conseguiu, de algum jeito, alcançar a outra margem? Quantos aprendizados? Quantos novos sonhos? Quantos novos encontros, novas histórias? Quantos fracassos, quantos medos? Quantos dias, desses dias, você achou que não ia conseguir ficar de pé, mas ficou e isso mudou a sua compreensão sobre você? Quanto da sua coragem você descobriu? Quanto da sua persistência, da sua capacidade de recomeçar, da sua habilidade de se encontrar, depois de se perder? Quanto de você, você aprendeu? edição @valdersouza1 texto @natyops identidade visual @amandafogaca • no Instagram @paradarnomeascoisas • no Twitter @paradarnome
Procrastinação é quando a gente assina um cheque de desconforto pra semana que vem, mas vai pagando os juros todos os dias. E isso quer dizer que procrastinação não tem a ver com respeitar cansaço, nem com aceitar as pausas, nem com entender quais são os nossos limites e atendê-los. Procrastinação não é desmoronar no sofá, depois de 10 horas trabalhando, quando você tem um médico para marcar. Isso é outra coisa. E é importante ter isso posto, porque num tempo extremamente produtivista, é fácil achar que você tá procrastinando, quando na verdade, você só está suplicando para que alguém pare de escrever mais coisas numa lista em que você sempre tem a sensação de que está devendo. Respeitar o seu cansaço não é procrastinação, jogar para amanhã algo que você está exauste demais pra fazer hoje, é saudável, não embarcar em demandas da moda pra respeitar a sua singularidade é louvável – chama limite. Dito isso, é preciso descobrir o que é, de fato, procrastinação. Nessa tentativa, eu descobr
Eu não sei você, mas eu tenho uma lista gigante de "quero chegar lá", mas me esqueço sempre de visitar a lista do "eu já cheguei". Toda vez que eu pego a Marginal para ir trabalhar, eu esqueço que eu repeti quatro vezes no exame do DETRAN. Toda vez que eu sinto que eu poderia fritar um ovo, enquanto eu dirijo, eu tendo a esquecer do quanto aquilo já foi um desejo intenso pra mim. Do quanto eu queria demais conseguir fazer aquilo um dia. E aquele dia, chegou, e eu comemorei, mas como quase todas as outras coisas da minha lista de "já cheguei", eu não voltei mais pra elas. Eu não sei como são as suas entrevistas de emprego, mas a maioria das que eu já participei, sempre tem a pergunta: o que você quer ser daqui cinco anos? Quando, na verdade, o melhor medidor de sucesso de uma pessoa, deveria ser: o que pra você era extremamente difícil e que hoje você faz com facilidade? Hoje, só por hoje, no lugar de pensar onde você quer chegar, faça uma lista dos lugares, das transformações, das comp
Tenho trocado as fórmulas de autocuidado por uma pergunta: como eu posso me nutrir? A cada dia que parece quatro, a cada peso que eu me coloco, a cada item adicional na lista da autocobrança, eu me pergunto: como, hoje, eu posso me nutrir? Às vezes a resposta que o meu corpo dá é: “dorme mais cedo”. Às vezes é: “diga não”. Em outras vezes é: “escuta uma música bonita”. Em outras é: “reduz a expectativa de todas essas tarefas, guarda o perfeccionismo na gaveta e mira só no possível”. Transformar o autocuidado numa pergunta tem sido o jeito mais eficaz que eu encontrei de me acolher. Ele me faz encontrar respostas longe dos lugares comuns e me ajuda a lembrar que para cuidar de si, a gente antes precisa se conhecer - todos os dias. o episódio dessa semana é pra você abraçar o seu cansaço e lembrar de você ser legal com você. Te espero, cê vem? 00:01 no @Spotify Edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
Saber que tem mais gente que pensa como a gente é ótimo, mas é muito importante que a gente saiba, antes, o porquê a gente pensa como a gente pensa. O porquê a gente faz o que a gente faz. Quando a gente alcança esse porquê, a gente também alcança o nosso coração. E talvez seja aí que mora boa parte das respostas que a gente procura, tanto e incansavelmente, do lado de fora. Eu entendi isso embarcando na bússola dos outros e me perdendo - muito. Vamos ver se agora eu aprendo. é por aí que o episódio dessa semana. Cê vem? edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto: @natyops 00:01 no @spotify #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
Num tempo em que a euforia e a satisfação constantes são a norma, boa parte do que compõe a vida real é julgada como desvio. É como se a gente vivesse numa grande festa. Aqueles que estão dançando, sorridentes, aparentemente satisfeitos e curtindo a música são melhores vistos. Acontece, a gente sabe, que mesmo que a vida fosse, realmente, uma festa, há momentos em que o dj toca uma chata, que alguém pisa no nosso pé, que o garçom diz que a gente chegou tarde demais e que a cozinha fechou. Há momentos em que a gente perde a comanda, a pessoa que a gente gosta beija outra, a gente é deixado sozinho no meio da pista. Festa e vida - por mais incríveis que sejam - têm coisas difíceis, chatas, desafiadoras, tensas, tristes e tudo bem, é assim mesmo. Isso também compõe a vida real. E faz parte da jornada de estar vivo, estar triste às vezes. edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto: @natyops 00:01 no @spotify #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
No começo do ano fui fazer um exame de vista. enquanto a oftalmologista arrumava o aparelho em que eu ia colocar os olhos, eu me queixei dizendo que o meu grau tava subindo intensamente, tipo quando a gente estica a perna para engolir três degraus de uma vez. ela me escutou e perguntou com o que eu trabalhava, eu disse. No final da consulta, quando ela me ofereceu a receita para um novo óculos, eu perguntei se ela tinha algum exercício pra eu fortalecer a visão e ela disse: “olhar longe. olha bem pro horizonte e fixa teu olhar lá.” Eu agradeci, passei na primeira ótica e, com as lentes novas, esqueci logo depois do que ela disse. Mal sabia eu que aquele conselho me serviria dias atrás, durante uma crise de ansiedade e apatia. edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops
Anos atrás, eu escutei uma coisa da qual eu nunca me esqueci: humildade é ver a realidade como ela é. Não é fingir que você sabe menos do que você sabe, não é elencar todos os seus defeitos diante de uma plateia, não é se ofuscar para não chamar atenção. Não. Humildade é ver a realidade como ela é. É ver que o mundo é grande e tem horas que o “sim” é nosso – e é uma delícia quando é nosso - mas tem horas que ele não é. Reconhecer os nossos limites, é encarar a dura realidade de que a gente não vai conquistar o mundo. E nem tudo que a gente quer. E que embora a gente tenha saído da escola, a gente vai ter que provar, mais vezes do que a gente gostaria, que a gente consegue passar por essa prova, a da frustração. Do não consegui. Do não cheguei lá. Do não deu dessa vez. Do me esforcei, dei meu máximo, mas não fui eu. Do vesti minha melhor camiseta, meu melhor perfume, caprichei na conversa, mas a pessoa não me escolheu. Do me doei muito nessa amizade, fiz o meu máximo, tentei entender, m
Eu ainda não consigo guardar minha lista de pendências no meio das férias. Eu ainda uso alguns dias pra fazer um tour com paradas no cartório, no banco e naquele médico. Às vezes, é verdade, não são só alguns dias, eu exagero. Mas toda vez que eu caio nesse espiral de fazer das minhas férias uma bomba de produtividade, eu lembro de uma ideia que eu li, anos atrás, durante um descanso cheio de culpa. Era algo mais ou menos assim: se você quer ser um profissional competente, descanse. Se você quer ser produtivo, descanse. Se você quer ser um estudante, um filho, uma mãe, um amigo legal, antes: seja legal com você e descanse. Seja lá o que você quiser fazer, seja lá o que você sonhe, seja lá o que você almeje, descanse. nesta quarta-feira no @spotifybrasil ° edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaça texto: @natyops 00:01 no @spotify #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
Olhando pelo retrovisor, ele puxou o freio de mão e me disse uma outra coisa: "quando o meu noivado acabou, eu passei a repetir uma frase de dia, de tarde e de noite. Eu acordava repetindo essa frase e dormia repetindo essa frase, virou um mantra para mim. Eu tomava café dizendo: 'nunca mais ninguém vai me fazer de trouxa'. Eu escova os dentes repetindo mentalmente: 'nunca mais ninguém vai me enganar'. Eu ia dormir repetindo: 'ninguém, nunca mais, vai me deixar assim'. E eu não sei, mas parece que essa coisa de eu perder o interesse pelas pessoas tem a ver com isso, sabe? Eu não sei exatamente como, mas eu sinto". Foi assim que aquela conversa começou, mas não foi nesse lugar que ela terminou. Sobre isso, eu te conto nesta quarta-feira no @spotifybrasil ° edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaça texto: @natyops #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
A ilusão da maioria é o filtro em cima da foto: deixa as cores mais vibrantes, mais brilhantes e, por isso, é onde o nosso olhar, muitas vezes, pousa, mas por ser filtro, evidencia uma parte da realidade e não toda a realidade. Isso quer dizer que embora naquele ano novo, parecesse que todo mundo estava viajando menos eu, tinha alguém do outro lado da cidade, no apartamento de cima, na rua de baixo, afundado no sofá, tentando escolher um filme pela enésima vez. Tinha alguém que diante de todas as possibilidades, todas as possíveis escolhas diferentes, todas as chances de dizer um "sim" de última hora, ainda tinha escolhido a sensação de estar só e em paz na própria pele. Tinha alguém que aproveitou a cidade vazia para andar de bicicleta, para virar pro banco de trás e dizer: foi aqui que a sua mãe e eu nos conhecemos. Tinha alguém num outro ponto do estado que, anos mais tarde, numa mesa de bar diria: cara, não acredito, tive a mesma sensação que você naquele ano novo, mas que bonito,
Eu fiz apenas uma meta para esse novo ciclo: resgatar a leveza. aquela que mora entre saber a hora de soltar a âncora do barco para descansar e colocar ele no mar quando o vento sopra a favor. os caminhos que eu estabeleci para conseguir retomar essa estrada, eu compartilho neste episódio. toda quarta-feira no @spotifybrasil ° edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaça texto: @natyops siga a gente nas redes sociais: twitter @paradarnome ° instagram: @paradarnomeascoisas #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
Se você não soubesse quantos anos você tem, quais coisas você faria? Quais crenças você mudaria de lugar? Será que você se acharia velha pra aprender? Ou pra viver um amor? Ou pra pular de paraquedas? Escrever um livro? Aprender grego? Se inscrever numa aula de dança, se matricular num curso de teatro, recitar poesia, começar a terapia, dizer eu te amo, pedir desculpas, falar o que você sempre engoliu? Se não tivesse essa coisa do cedo ou do tarde demais, quantas coisas você faria diferente? Ou quantas você começaria exatamente agora? Se não tivesse essa coisa de que aniversário a gente comemora uma vez por ano ou no máximo algumas no mês que nasceu, quantos bolos você faria? Ou compraria? Ou daria de presente pra alguém só por que o nascimento daquela pessoa foi um acontecimento bonito demais? Se não nos educassem pra definir o tempo “certo” pra cada coisa, ainda assim seria tarde demais? Toda quarta-feira no @spotifybrasil ° edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaça texto:
A mudança interna é aquela que você não sabe exatamente quando começou, você só sabe que agora é mais fácil dizer "não" do que era quatro anos atrás. Você só sabe que aquela camiseta colorida que você sempre usava, hoje não entra mais no seu armário, você só sabe que você adorava preto e, agora, a cada dez acessórios que você usa, três são amarelos. Você só sabe que você foi fazendo pequenas e - às vezes - difíceis decisões e as coisas foram mudando. Você foi mudando. Parece só lindo - e poético, mas a gente sabe: não é. É difícil. Por vezes eu adiei grandes mudanças por causa disso. O dilema não era deixar de ficar desconfortável para ficar confortável. O dilema, o real dilema, era abrir mão de algo que era conhecido para abraçar tudo isso que era, mas eu não sabia o que. E eu não sei para você, mas isso sempre me deu bastante medo. É para falar de mudança - desse jeito bem nosso - o episódio de hoje. Cê vem? arrasando na trilha @valdersouza1 na identidade visual de arrancar suspiros
Anos atrás, eu estava sentada no sofá de casa, quando o meu pai ligou a televisão. Meu pai é o tipo de pessoa que por muito tempo não assistia televisão, ele conferia se todos os canais estavam funcionando. Ou seja, ele ia pulando de um para o outro, enquanto a gente dizia: "pai, pelo amor de deus, deixa em qualquer canal, mas deixa em um?" Numa dessas, a gente acabou parando num filme. Eu não lembro que filme era, mas o enredo girava em torno de um casamento, que só era casamento, porque o personagem tinha entrado naquela lanchonete, de esquina, porque tinha ficado trancado para fora de casa. Logo a mãe dele que nunca esquecia de deixar a chave embaixo do tapete, tinha se distraído com o gato da casa vizinha e enquanto esperava o elevador chegar, acabou trancando a porta. Eu esqueceria do nome do filme dias depois, mas o enredo daquela história ficaria guardado em mim com uma pergunta: o que teria acontecido se eu tivesse feito outra escolha? O que vem depois disso, eu conto no episód
Eu sou perfeccionista e eu sofro com isso. Na minha cabeça existe um jeito ideal de fazer qualquer coisa e eu tento corresponder esse jeito quase sempre. O problema é que esse jeito ideal nem sempre tá claro para mim, às vezes ele tá na cabeça do outro e mesmo assim eu tento acertar. É tipo quando você é criança e alguém diz: "desenhe uma casa" e você tenta fazer uma casa ideal, mesmo sem saber o que é o ideal na cabeça da professora. Não raramente eu entrego textos e levo um susto quando a outra pessoa diz que estavam ótimos. Não raramente eu acho que, na verdade, não tava ótimo nada, a pessoa que tá tentando me agradar. É que eu busco o ideal de cada coisa e como esse ideal nunca tá claro na minha cabeça, eu também nunca sei quando eu alcancei ele. É como se eu tivesse que correr numa pista de corrida. Eu treino, analiso o chão, me preparo e corro, mas como eu não sei onde está a linha de chegada, parece que eu nunca alcanço ela. É assim que o perfeccionismo funciona na minha cabeça,
Eu tenho a sensação de que a gente ama e faz arte por isso: para assumir o risco de ser quem a gente é. Eu falo disso no episódio dessa semana. Cê vem? 00h01 no @spotify edição: @valdersouza1 | identidade visual: @amandafogaca | texto: @natyops #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
Era agosto do ano passado, lembro como se fosse hoje, cabeça a mil, ansiedade no talo, peito apertado. Sequei as mãos na blusa e escrevi no bloco de notas do celular: não dá para resolver um problema com a mesma energia que eu criei ele. Essa frase não é minha, eu ouvi ela durante uma meditação, que eu não lembro mais qual foi. Só sei que eu fiquei repetindo essa frase por toda aquela semana. Quando chegou na quarta-feira seguinte, eu comecei a terapia falando disso: "Renata, eu não acredito que eu vou trazer esse assunto para cá, eu tô com muita vergonha, mas eu tô perdendo completamente a mão com o uso do celular. e eu preciso de ajuda." o que rolou depois, eu conto nesse episódio. cê vem? toda quarta-feira no @spotifybrasil ° edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaça texto: @natyops #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoisas
Eu não conheço nenhum super herói que sinta vergonha. Em todos as histórias que eu já ouvi, eles sentem raiva, medo, indignação, mas vergonha? Eu lembro do homem aranha, do super men sentirem frustração, quando não conseguem salvar o mundo ou quando são impedidos de agir por causa de um vilão, mas não me lembro deles sentindo vergonha. Sabe aquela vergonha? Aquela de colocar as mãos na cintura e dizer: não deu certo, não foi como eu imaginei, não aconteceu como eu quis. Vergonha de dizer eu não dei conta, eu não soube fazer, eu não consegui alcançar, eu falhei na largada, fugi quando deveria ter ficado, eu me iludi, eu arreguei. Vergonha. Eu não conheço nenhum super-herói que sinta vergonha. Esse tipo de vergonha. Na verdade, nada nada me parece mais anti-herói do que sentir vergonha e talvez por isso, por tantas vezes, eu senti vergonha por sentir vergonha. Você também? edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops #SpotifyPodcastAcademy #PodcastParaDarNomeÀsCoi
A real é que assim como o amor foi vítima das idealizações românticas, a amizade também foi. E por isso, a maioria de nós passou acreditar que amizade é uma espécie de mágica e não uma parceria que envolve respeito, autoanálise, recuos e várias outras coisas que, por vezes, dão trabalho como qualquer relação. Existe no imaginário coletivo a ideia de que os nossos amigos são aquelas pessoas que vem com o nosso hd e que a gente não precisa falar, porque eles simplesmente sabem aquilo que a gente precisa. e cara, embora a gente possa experimentar momentos assim, eles são o que são: momentos. É evidente que ao passo que você vive e conhece alguém, isso te dá pistas e sinais das coisas que aquela pessoa gosta, somado a isso tem a maturidade que a gente tem nas relações e que dão alguns limites, mas isso não vai nos livrar do incômodo de entrar em algumas conversas importantes se a gente quiser uma relação de amizade duradoura. É para falar de amizade o episódio dessa semana, cê vem? edição
Esses dias eu li um texto de um escritor chamado Murilo Leal em que ele diz que solidão é coisa de adulto. E é verdade. Solidão é coisa de quem tá tocando a própria vida, do jeito que dá, que consegue, que é possível. Viver de forma autônoma, mudando a rota da própria vida, é um convite à solidão. E é, não porque as pessoas soltam a sua mão, mas porque por mais que tenha gente segurando, na sua pele é só você. edição @valdersouza1 • texto @natyops • identidade visual @amandafogaca • no Instagram @paradarnomeascoisas • no Twitter @paradarnome #spotifypodcasts #paradarnomeàscoisas
Isso é um lembrete de que tem mais vida pra além do que a gente enxerga. Tem mais estradas para além do que a gente caminha. Tem mais céu pra além do que a gente vê. Tem mais. E é isso que o controle - e o cansaço - não deixam a gente perceber. edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops
Hoje eu saí para trotar. Só que no meio do caminho, eu senti vontade de sentar no banco e pegar um sol. E por um momento, eu me reprimi naquela vontade que era tão genuína. Me reprimi porque o plano era sair para trotar, para correr, não para sentar no banco e tomar sol. Mas aí, por sorte, eu lembrei da pequena pedrinha que eu joguei no lago, antes da virada do ano. Antes do relógio virar meia noite, eu fiz um acordo comigo, eu fiz um combinado: andar devagar, quando eu pudesse andar devagar. Isso não é sobre parar. Não é sobre abandonar o que eu preciso fazer. É sobre fazer escolhas melhores. É sobre prestar atenção nas minhas escolhas. É sobre poder me escolher. edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops
A pergunta que surgiu na minha cabeça foi: como você vai contar a sua história de hoje daqui um tempo? Quantos contornos ela vai ganhar? Quantas nuances elas vai perder? quantas emoções e sentimentos vão mudar? Não sei pra você, mas isso me dá alívio, ternura e esperança. edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops
Nesse fim de semana, eu vi o filme Anne+. Ele conta a história de um casal de mulheres. Uma delas conseguiu uma vaga de emprego em outro país e vai se mudar para lá. Ela conversa com a namorada e elas traçam um plano. Ela vai pra lá para pegar o emprego, arrumar a casa que elas vão morar e a outra fica aqui, vendendo os móveis, cancelando as coisas, organizando essa mudança. Só que, no meio do caminho, ela entende que não quer viajar. Não quer mudar de país. Não quer mudar de casa, nem de endereço, nem ficar longe dos amigos. Mas ela não consegue verbalizar isso, porque ela não tá acostumada a se escutar e nem validar o que ela tá sentindo. Por isso, ela não consegue comunicar também. E aí a vida dela vai virando aquele carro, sem marcha, descendo a ladeira, atropelando tudo, inclusive ela mesma. E isso me lembrou várias coisas. Inclusive alguns momentos da minha vida. edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto @natyops
Eu não lembro qual foi a primeira vez que eu me senti insuficiente. Mas eu já me senti assim algumas vezes na vida. E mesmo sem te conhecer, eu aposto que você também. Têm coisas que são como um fio invisível que liga todas as pessoas. Não importa onde você nasceu, a sua idade, a sua roupa preferida, qual é aquela comida que te faz lembrar um momento bonito, qual é aquela cicatriz que te lembra aquele tombo de bicicleta, aquela carta que você ainda guarda, aquele seu gosto por coisas neutras ou muito coloridas. Não importa qual é aquele objeto que resiste a todas as suas mudanças, aquela roupa que não sai do seu armário, não importa o quanto a sua história seja diferente da minha ou de todas as outras pessoas que sentam aqui na mesa, mas todos nós já vivemos um momento em que a gente se sentiu assim: insuficiente. E é sobre isso que falo nesse episódio.
Voltar Repara no que é importante para você. Porque a gente vai sendo empurrado para várias coisas que são lógicas, porque a gente vai seguindo várias regras que são lógicas, porque a gente vai cumprindo com várias coisas que são lógicas, porque a gente vai se negligenciando em nome de várias coisas que são lógicas, mas que no final das contas são vazias de importância para gente. Ou pior: atropelam o que é importante para gente. Repara no que é importante para você. E se der, honre isso. . . episódio novo nessa quarta no spotify. cê vem?!
Eu não sei para você, mas, para mim, o processo de se reencontra parece um quarto bagunçado. Tem tanto trabalho pela frente, que dá vontade de deixar tudo como tá. Mas como tá, tá ruim. Tá incômodo. Não tá deixando a gente em paz. E aí tem uma parte minha, uma parte nossa, que diz: 'não pensa no caminho todo não, não coloca todo esse peso nesse agora, para se reencontrar, só começa de algum lugar. Não importa o tamanho da bagunça, do caos, da zona, não importa o quanto de estrada tem pela frente, se concentra numa blusa, depois a outra. Num sapato, depois o outro. Num passo, depois o outro. Numa tentativa depois na outra. Não tenta traçar esse mapa de ponta a ponta, só faz esse pedaço de estrada pra hoje. E amanhã você faz o caminho de amanhã. E depois de amanhã, o caminho de depois de amanhã. Para se reencontrar, às vezes o que a gente precisa é dar lugar as coisas. E ao tempo.
Essa situação me fez pensar em muitas coisas. Me fez pensar em como a gente segura situações, relações, histórias, coisas em nome do que foi. Em nome do passado. Em como a gente, muitas vezes, se recusa a abrir espaço – no armário e na vida - porque tá preso demais em uma história que não é mais. Em como a gente às vezes demora para atualizar aquela história. Para colocar aquela coisa, aquela pessoa, aquela situação em outro lugar. Em como a gente demora pra dar um F5. A nossa mente tá o tempo todo contando histórias pra gente e a gente precisa ficar atento pra ver se elas tão, mesmo, conectadas com a realidade. Porque é isso, eu estava ocupando um espaço no meu armário e na minha vida com uma coisa que tinha sido muito boa, mas há tempos já não era mais e e era em nome do passado que eu tava deixando ela ali. identidade visual @amandafogaca edição @valdersouza1 texto @natyops
Eu tava temperando o feijão, quando o meu celular apitou com uma mensagem. Era um par de ingressos na faixa para uma peça de teatro mais tarde. A assessora, que é minha amiga, tava me dizendo ali: "Nat, acho que você vai amar, essa peça é incrível! Consigo dois ingressos e ainda te libero o estacionamento. Bora?" A resposta deveria ser óbvia: "amiga, eu agradeço demais o convite, mas hoje eu levantei e parece que um caminhão passou por cima de mim. Eu tô desde cedo fazendo todas as coisas me arrastando. Então por mais que eu ame teatro e ame ainda mais teatro na faixa, eu não vou conseguir ir". A resposta parecia óbvia, mas algo dentro de mim tava dizendo que era sábado, que a noite tava boa, que oportunidades como aquela a gente não negava, que eu deveria arranjar energia de qualquer lugar e ir. A resposta parecia óbvia, mas se era, por que o meu corpo não tava entendendo?
Há muitos manuais pelo mundo. Há muitas regras. Se você procurar, você vai achar um jeito certo pra fazer cada coisa. Tem sempre um conselho pelo caminho, um mapa, uma seta. Se a gente quiser, a gente encontra um memorando pra viver. Mas acontece que esses memorandos dificilmente vão oferecer pra gente a nossa verdade. Isso é um trabalho nosso. Com sorte, você pode até encontrar alguns manuais bem intencionados, mas eles vão te auxiliar no caminho, mas o caminho quem faz é a gente. Vida tem que fazer sentido, antes de tudo, para gente. é sobre incômodos, buscas e encontros o episódio dessa semana, cê vem?
Eu sentei ali, na grama molhada e barrenta, e fiquei olhando aquele verde. Fechei os olhos e fiquei sentindo aquele momento. Por alguma razão, eu comecei me lembrar de todas as vezes em que eu saí de um emprego para entrar no outro. Fiquei lembrando o medo, do frio na barriga, da ansiedade, do 'meu deus do céu e se der tudo errado'. Fiquei lembrando de todas as minhas tentativas meio tortas, meio sujas, meio atrapalhadas, fiquei lembrando de todas as vezes em que eu comecei a fazer algo novo e não saiu exatamente como eu queria, lembrei da Renata dizendo: você vai ter que fazer as pazes com as suas sombras, se quiser ser inteira nas coisas, Natália. Fiquei lembrando ali que às vezes a gente quer higienizar a vida, deixar tudo reto, e limpo, e organizado…quer passar em branco quase tudo…mas não dá para sentir - e viver - sem se sujar. identidade visual @amandafogaca edição @valdersouza1 texto @natyops
Eu já tive doze anos, quando tava com trinta. E já tive 87 quando tava com 33. Não há um rg que possa me dizer a minha idade todos os dias. Porque ela muda, dependendo do dia. E da vida. E eu to dizendo tudo isso, porque é essa fixação pela idade, que às vezes faz com que a gente abandone a nossa criança interior. Às vezes é porque eu tenho 35 e você 46, que a gente tem deixado de fazer o que a nossa criança interior gostaria que a gente fizesse. E eu tenho desconfiado que maturidade seja esse exercício dificílimo e desafiador que é reconhecer que a gente, adulto, racional, não é o centro de tudo e que a nossa criança não desaparece, só porque a gente deixa de olhar para ela. episódios novos todas as quartas-feiras.
O problema da louça e da conversa difícil é o mesmo: elas cortam muito a vibe. E é por isso, muitas vezes, que a gente vai empurrando a DR e a louça para frente, porque é chato. Porque estraga o clima, porque pesa o rolê, mas o problema da louça que a gente não lava e da conserva que a gente não começa, é que elas não somem, só porque a gente tá com preguiça, com medo ou porque não quer estragar o clima, né ? A louça vai ficando com cheiro ruim, a comida vai grudando no prato, o negócio vai ficando cada vez mais difícil de limpar e a gente vai sentindo que a coisa tá ficando pior a cada dia. E aí a gente começa ter aquela sensação de: por onde eu começo? porque eu passei tanto tempo só colocando a louça suja, só não dizendo, que agora eu nem sei por onde começar…por isso, que eu sou mais do time do: sujou lavou, sabe? Deu uma queimada aqui…vamos conversar sobre isso? Mas nem sempre foi assim, e é sobre tudo isso que eu falo nesse episódio. Cê vem?
Esses dias, eu estava me lembrado da minha adolescência. A gente tinha uns quinze, dezesseis anos e vez ou outra a gente fazia uma das coisas que eu mais gostava de fazer nas sextas-feiras. A gente entrava no carro do Gabriel, que era o menino mais velho da turma, e ele dirigia até São Bernardo do Campo, que era uma cidade que ficava mais ou menos uma hora de distância da minha casa. Cada um dava um real e a gente comprava refrigerante, salgadinho e chocolate. E a gente ficava ali, conversando, rindo e comendo chocolate. Quando eu lembro de momentos em que eu era feliz e sabia, esse é um dos momentos que me vem à memória. Hoje, pensando no porque, eu percebi que naqueles dias a gente sempre se perguntava: o que dá para fazer hoje que vai deixar a gente feliz? E a gente se esforçava para pensar no que dava, mesmo, no que era possível e ia lá e fazia. E por isso a gente perdia pouco tempo com o que não tava no agora.
Essa experiência e várias outras que eu vivi depois, me fizeram perceber como a minha ansiedade serve ao meu controle. Os dois sempre andam de mão dada. A ansiedade é aquele mensageiro que chega com uma carta, trazendo todos os mais horríveis cenários e o controle é quem recebe a carta. E aí o que o controle faz? Um plano para evitar que todos aqueles cenários aconteçam, só que para evitar que eles aconteçam, o controle se propõe a pensar excessivamente sobre todos aqueles riscos até encontrar aquilo que ele ainda não pensou e isso causa o que? Mais ansiedade, mais cenários catastróficos. Acontece que a ansiedade, muitas vezes, olha o futuro, olha as coisas pelo olho da fechadura, ou seja, às vezes ela fica concentrada num detalhe, num ponto da história…ou até olha a história, mas não toda a história. E o controle também, ele quer controlar tanto as coisas que não deixa espaço pra surpresa, pro inesperado, pra outros pontos de vista, para outros caminhos…e é exatamente o inesperado que
Às vezes a culpa pelo fim é como aquele leite que a gente colocou para ferver e derramou. A gente colocou o leite no fogão e ficou de olho nele. Mas aí começou passar o comercial da novela na sala e a gente correu rapidinho lá para ver. Quando voltou pra cozinha, o leite já tinha esquentado, fervido e derramado. E olhar praquilo deu uma culpa gigante afinal, como a gente não chegou a tempo? Como a gente não viu?. Mas aí talvez valha lembrar que o leite não derrama só porque a gente se distrai, o leite derrama quando ninguém na casa tá olhando pra ele. Como me lembrou a minha terapeuta na semana passada, relações, independentemente de quais forem, só se sustentam no cuidado mútuo. Esse trabalho não pode ser só seu.
Ela tinha pedido um retorno em três dias. E nesses três dias, meu corpo se dividiu entre um lado que tava muito animado com a ideia. E o outro que tava morrendo de medo. Para mim, só tinha dois caminhos: ou eu chegava pronta, exuberante, supersegura. Ou eu nem ia. Só que eu queria muito ir, né? E aí o que eu fiz? Eu comecei a jogar no Google: como não transparecer que eu estou com medo, quando eu estou com muito medo. E aí eu vi vídeo no YouTube, eu li tutorial para esconder o medo, eu procurei tudo quanto é dica, mas quanto mais eu fazia isso, mais o medo crescia. Porque negar o que a gente tá sentindo ou tentar resolver o que a gente tá sentindo, sem olhar honestamente para isso, é como tentar segurar uma barragem de água, com as costas. Uma hora ela escapa ou estoura. é para falar de autocrítica, coragem e compaixão o episódio dessa quarta-feira, cê vem?
Eu fiquei um tempo ali, em silêncio, e eu me dei conta de que dava para sintonizar em outra estação de rádio, sabe? Que tinha uma outra estação ali que era muito melhor. E nesse silêncio, e nessa estação que é muito melhor, eu lembrei de uma fala de uma professora minha. Ela tava dando uma aula sobre satisfação, sobre felicidade, o nome dela é Carla Furtado, e ela disse: a gente vive escutando aquilo que a gente precisa melhorar, aquilo que falta, aquilo que a gente precisa desenvolver e a gente se cobra para isso também - e isso não é ruim, mas você já parou para pensar no que há de certo com você? E essas perguntas, embora tenham sido feitas muito tempo depois, elas me foram a resposta para aquela sensação que eu tive, naquele processo seletivo. nessa quarta-feira no spotify. cê vem?
Uma vez um psicólogo, que também é meu professor, me disse uma coisa que ele observava: toda família tinha dificuldade com alguma emoção ou sentimento. Claro há sempre exceções, mas de modo geral toda família tem uma placa invisível de: "é proibido sentir a emoção x". Em algumas casas é proibido sentir medo, em outras fragilidade, em outras insegurança, quase sempre, ele dizia, a placa é de: "proibido sentir raiva". Começou a sentir raiva? Logo vem alguém dizer que "é bobagem, que não precisa." Ou que "deixa para lá, nem é tão importante". Ou que "sentir raiva é pecado ou coisa de gente que não "sabe se portar". Acontece que essas placas não fazem com que a gente não sinta raiva, elas só fazem com que a gente desconheça a raiva. E quando a gente desconhece a raiva, a gente desconhece um parte importante da gente mesmo. E por isso, de modo geral, lida de um jeito ruim e desconstrutivo com ela.
Dentro de mim tem um cavalo selvagem correndo solto pela arena. Se eu prendo o cavalo, eu prendo junto com ele a minha motivação, a minha energia, a minha intensidade, o meu desejo, a minha vontade de me entregar para as coisas. Se eu deixo ele cavalgando solto, selvagem, eu não reconheço limite, eu não sei descansar, eu esqueço que amanhã também é dia e eu caio na exaustão. O meu maior desafio é domar esse cavalo. É fazer com que ele me entregue o melhor desses dois lugares. É fazer com que ele me ajude a saber a hora de ir, mas também me permita saber a hora de parar. Eu preciso da força dele, para entregar o melhor, mas eu também preciso da mansidão, para saber que o melhor não pode ser tudo, porque tudo é tudo. E não sobra nada.
Eu não sei quantas vezes o assunto mudou, só sei que quando eu cheguei na mesa, tava rolando um papo sobre religião. Tinha uma pergunta rodando e assim que eu sentei, eu ouvi: você acredita em Deus? E aí tava todo mundo tava ali respondendo, se acreditava, se não acreditava…e quando eu tava levando o copo na boca, alguém me perguntou: e você? E aí meio que sem pensar muito, eu disse: “cara, se tem uma coisa que eu entendi na vida adulta, é que eu não dou conta de não acreditar”. E aquilo foi doido e importante, porque naquele momento eu não só falei, eu me ouvi. E embora esse não tenha sido o início da estrada, certamente não foi, mas foi um ponto muito de um caminho, que eu comecei a fazer conscientemente em busca dessa espiritualidade. Mas para contar mais disso, eu preciso voltar um pouco mais no tempo. @paradarnomeascoisas nessa quarta no @spotifybrasil você vem?
Eu tinha acabado de dizer para a Jadinha que uma das coisas mais bonitas que eu tinha aprendido nos últimos anos era descobrir e sustentar o meu desejo. Ela achou bonito aquilo que eu disse e a gente ficou, ali, conversando sobre isso. Acontece que o dia seguinte chegou e, depois dele, mais um e eu me vi tendo de honrar aquilo que eu tinha dito. E foi mais difícil do que eu imaginava. No instagram: @paradarnomeascoisas no Twitter @paradarnome
A vida acontece no intervalo. Entre o casamento e a faculdade. Entre a faculdade e a festa de cinquenta anos. Entre a promessa de que a insegurança vai embora e o dia que ela realmente for. Entre a promessa de que o medo vai embora e o dia que ele realmente for. A vida acontece no intervalo. E é no intervalo, nesse lugar em que o medo ainda existe, em que a angústia ainda tá, em que a insegurança ainda se impõe, que a gente vive. É no intervalo que a gente coloca o barco no mar, para quem sabe, chegar num outro lugar. vem sem blusa, porque o episódio de hoje tá quentinho. nessa quarta no @spotify, cê vem?
Esses dias eu fiz uma coisa que eu quase nunca faço. Fui mudando a TV de canal e acabei soltando o controle num filme aleatório. Era a história de uma mulher que percebe que não ama mais o companheiro e diz isso pra ele: não te amo mais. Ele tenta entender onde é que a coisa desandou, tenta reatar, mas o argumento é imbatível: não te amo mais. E a relação acaba. Daí́ que duas semanas depois, eu recebi uma mensagem aqui no Instagram que trazia uma pergunta: até́ quando lutar por um amor? E essas duas coisas - aparentemente desconectadas - se conectaram num café́ de domingo e me trouxeram uma reflexão boa e honesta sobre amor, relação e fins. E é disso que eu falo nesse episódio. vem sem blusa, porque o episódio de hoje tá quentinho. nessa quarta no @spotify, cê vem?
Eu lembro como se fosse ontem. o consultório era todo marrom e bege e tinham duas poltronas, uma de frente pra outra. eu segui o gesto que o Carlos fez e me sentei em uma delas. ele fez o mesmo, na que estava livre, e me perguntou com calma: como você está? chorei por vários minutos, até me recompor. até conseguir responder: frustrada por estar aqui. eu tinha tido a minha primeira crise de ansiedade e aquela sessão era uma boia de salva-vidas, que eu tinha pegado, depois de tentar várias coisas antes. não era bem uma escolha. era a última opção. nessa quarta no @spotify cê vem?
Recentemente, eu vivi uma situação em que eu me senti muito a prova, sabe? Uma situação que me deu muito medo. Medo de falhar, medo de não conseguir, medo de não dar conta. E aí, primeiro eu fingi que o medo não existia. Mas não deu muito certo, porque era como se eu tivesse desconfiada de que tinha um monstro embaixo da cama, mas não tivesse coragem de ir lá pra ver se tinha mesmo. E aí como eu não olhava para ele, eu também não conseguia dormir direito, nem ler sentada na cama, nem tirar uma sonequinha, porque, afinal de contas, o medo do fantasma tava ali. E aí teve um dia que eu comecei a ver que negar o medo não tava me ajudando muito, porque não fazia ele desaparecer. E aí eu peguei uma folha de papel e comecei a escrever todos os medos que eu tava sentindo. Dos mais toscos aos mais reais. E aí quando eu terminei de escrever, eu disse em voz alta: agora eu vou fazer o que eu preciso e quando eu terminar, eu vou ver quantos desses medos eram reais. E isso me levou prum encontro co
Eu tava saindo do trabalho quando meu celular apitou com um e-mail. No assunto, tava escrito: convite. A moça tava me dizendo que adorava o Para dar Nome as Coisas e que queria me convidar pra fazer um evento em que iam ter duas coisas que ela tava dizendo que seriam incríveis. A primeira delas era fazer uma apresentação ao vivo prum monte de gente e a segunda seria entrevistar uma escritora que eu admirava demais. A terceira, que ela não tava contando, era fazer essas duas coisas junto. Num primeiro momento, a minha resposta pareceu óbvia. Nossa, incrível, maravilhoso, mas assim…não tenho coragem. E eu fui escrevendo bem isso. Não assim, daquele jeitinho que a gente faz. “Ah então, eu adorei, mas cê sabe que o meu cachorro ele tem uma cirurgia…” Só que algo dentro de mim não conseguiu apertar enter. Não conseguiu enviar. E o resto dessa história, eu te conto no episódio dessa quarta-feira. Bora?
Voltei pra casa pensando naquilo. Pensando em como a gente rotula com facilidade as pessoas, usando as nossas próprias regras. No fim, aquelas pessoas que chamaram ela de "louca", estavam falando o tempo todo de si mesmas. Mas tem mais uma coisa além disso que me tocou: e foi essa coisa dela ter conseguido encontrar e sustentar o próprio caminho. E seguido nele – a despeito do que as outras pessoas achavam disso. E isso me lembra demais o conceito de autonomia. Eu aprendi esse ano que a etimologia da palavra autonomia é ser a lei de si mesmo. Não é lindo? Autonomia é saber que você é quem faz as suas próprias leis. E isso me lembra uma cena que me tocou demais nos últimos dias.
Quando usar uma faca afiada, repare no que você quer realmente cortar. Por vezes, o ruim e o bom, o saudável e o adoecido, fazem parte de uma mesma coisa.
Esses dias eu tive um sonho muito simbólico. Eu estava num espaço público em que tinha uma cozinha. E eu estava dentro dessa cozinha. Era uma espécie de um escritório grande, mas ele não tinha parede. Isso quer dizer que quem tava fora da cozinha, também conseguia me ver. Eu precisava despejar um tanto de água dentro da pia, mas na hora em que eu fiz isso, a água voltou, porque o cano estava entupido. Junto com a água começou a sair várias sujeiras do cano. E a minha primeira reação foi ficar com muita vergonha. Então eu comecei a recolher a sujeira e tentar jogar na pia de novo. E a e sensação que eu tinha é que todo mundo que tava ali perto, tava me olhando com censura, me julgando, sabe? Tipo, a lá a pia entupida, a mina entupiu a pia…E eu pegando as coisas do chão e jogando dentro da pia, muito envergonhada… Mas aí de repente eu olhei pra aquilo e aceitei que aquilo tinha acontecido. Aceitei que a pia tinha transbordado. Aceitei que aquele tipo de coisa podia acontecer. Aconteceu c
Faz muito tempo. Eu tinha uns dez anos mais ou menos. E eu tinha uma amiga chamada Flávia. Ela morava no mesmo prédio que eu morava e tinha um ou dois anos mais a menos do que eu. A Flávia era bem branquinha e tinha o cabelo enrolado, cabelo castanho claro. Eu lembro dela ter muito cabelo. No quarto dela tinha um saco de cetim onde tinham muitas faixas de cabelo, faixas de várias cores. E todos os dias, ela pegava uma de lá. A gente era muito nova e eu tenho poucas memórias com a Flávia, mas entre as que eu tenho, tem uma que ficou grudada no meu corpo por anos. Foi uma memória que seguiu comigo na adolescência e, eu posso dizer, que funcionou como uma bússola, me guiando em várias situações. Dia desses, ela voltou de novo. E foi um chacoalhão, sabe? Uma percepção importante. onde foi parar a minha energia?
Ela tava me contando que não conseguia acreditar que aquilo que era tão bom tinha realmente acontecido. Na hora, eu entendi o que ela tava dizendo, como quem junta dois pontos, de um jeito muito racional e lógico. Mas dias depois, eu vivi uma experiência que me fez entender com o corpo o que aquela mulher tava me dizendo. E eu quis voltar no tempo, pra retomar aquela conversa.
Era só um flerte, mas quando terminou eu fiquei muito mal. Muito mal mesmo. Mal por meses - de um jeito muito desproporcional ao que aquele encontro realmente significava. E aí eu lembro que um dia, eu fui desabafar com uma amiga, a Cinthia, dizendo isso, dizendo que eu tava muito mal, porque ele tinha ido embora, e ele era incrível, e nossa como eu perdi essa oportunidade. E a Cinthia bem direta, me disse: Nat, você não tá sofrendo porque é ele, você tá sofrendo porque você só queria que alguém ficasse. Tempos mais tarde, eu percebi que ela tinha razão.
É a coisa da festa, né? Você dançou a noite inteira, mas tem uma hora que você começa pensar demais na sua cama. Você decide chamar o carro de aplicativo e quando o cara abre a janela e pergunta: Natália? Começa tocar a sua música preferida. Vontade de ir, vontade de ficar. Para cada decisão uma falta. E a real é isso. Sempre vai faltar. Sempre vai faltar alguma coisa. E pensar nisso me dá uma calma, uma tranquilidade e, mais do que isso, me humaniza. Porque me lembra que a gente tá fazendo escolhas o tempo todo que vão ser sobre sair ou não sair, mudar de emprego ou não mudar, mas também são sobre acreditar e confiar, que a gente fez o melhor que a gente poderia ter feito naquele momento. E que se a gente tivesse feito de outro jeito, o vazio poderia ser outro. Ou, às vezes não seria o vazio, mas o excesso de coisas que não cabiam mais.
Esses dias, vi um post da Alessandra Reis que dizia que autoestima é como você se sente. Não é, exatamente, o que você, mas aquilo que você sente. Isso me bateu de um jeito diferente, porque semanas antes, eu tinha vivido uma situação que ia me fazer pensar nisso de um jeito novo.
A gente tava parada na frente do letreiro do cinema. Amanda foi lendo um por um, procurando um filme que tivesse um horário em que a gente pudesse pagar pelos ingressos e entrar. Não tinham muitas opções e as que tinham não contemplavam uma sessão as duas da tarde de uma segunda-feira, véspera de feriado. Então a gente acabou desistindo e continuou andando pelo conjunto nacional. Perto do orelhão laranja, eu fui invadida uma espécie de déjà-vu. Era como se o tempo tivesse voltado pra 2016. Uma coisa, entre várias de uma sequência, que iam me fazer lembrar, naquele dia, que a vida é um projeto aberto. E pode acontecer fora das listas.
Esse episódio começou numa crise existencial. Era sábado a noite, eu tava sentada no sofá tomando uma cervejinha, assistindo a um documentário, e de repente a minha cabeça revirou alguns baús, tirou umas coisa do fundo da gaveta e jogou uma bomba no meu colo: será que eu sou dramática? É difícil de explicar porque eu me segurei nessa pergunta, de um jeito tão maluco e tão sem contexto. Mas eu me agarrei. E a ela me levou pruma viagem boa sobre autoresponsabilidade e autoconhecimento.
Há uma diferença entre algo que acaba e algo que termina. As duas coisas mudam com o tempo. As duas coisas se transformam. Mas terminar vem do latim terminare. E um dos significados é linha de limite. Ou seja, fim da estrada. É algo que chegou ao fim. É algo que foi até onde poderia ir. É algo que você deixa ir, porque não tem mais como continuar. Porque você não quer mais continuar. É algo que você decide pelo fim. Acabar não. Acabar é outra coisa. Acabar é quando você aceita que algo se transformou, que uma fase acabou, mas que outra virá. E você quer que venha. E sabe que as fases de seca são parte da vida. E das relações. E dos nossos processos. E das caminhadas. E das histórias. Têm coisas que só continuam, têm histórias que só permanecem porque acabaram. Deixaram de ser uma coisa para ser outra coisa. E quanto mais você assiste e vive esse processo de mudança atentamente, mais chance você tem de acreditar na força desse vínculo. Mais chance você tem de acreditar que esse víncu
Sabe quando alguém vai visitar a sua casa e diz: nossa que casa bonita, que energia boa, que textura de almofada legal, que vista bacana, que sol legal que entra e aí a gente pensa: é, você tá dizendo isso, porque você não viu aquele armário, que tá uma zona, e eu nunca arrumo. Eu acho que o armário é aquela sensação, que a gente tem quando a gente tá sendo amado, ou valorizado, ou reconhecido, ou elogiado na vida, nas relações românticas, na amizade, no trabalho….e aí tem uma vozinha lá dentro dizendo: é, mas essa pessoa tá dizendo isso porque ela não viu o armário bagunçado…porque ela não viu quantas vezes eu refiz isso aqui, ou porque ela não viu as minhas sombras…porque ela não viu como eu fico nervosa quando estou numa situação difícil. Mas a pergunta que fica é: quem não tem armário bagunçado?
Tenho tido muitas conversas com amigos que tão nesses 30 e poucos anos. Nesses 30 e tantos. E a gente tem falado muito disso. Dessa coisa de não cair nas armadilhas dessa tik tokização da vida. Das relações. De recusar essa lógica, que acha que a vida, os processos, as dores têm que passar, tem que te convencer em quinze segundos, em um minuto, do contrário eu passo pro lado. Eu desisto.
Eu tava colocando a cerveja no copo, quando minha amiga me contou do fim de semana. Ela tinha ido ao forró. E me perguntou: vamo na próxima? Eu disse vamo. Disse com segurança na voz, mas, ela sabia, e falou: você nunca vai, amiga. Ela tá certa, eu nunca vou. O jeito que ela me pegou no pulo me fez me explicar: eu não vou, porque eu não sei dançar forró. E porque eu não me deixo ser conduzida. Não me deixo ser levada. Controle, amiga. Controle. Mas essa não era toda verdade. Eu ia descobrir isso dias depois, num insight poderoso sobre perfeccionismo e coragem.
É a coisa do: compre o carro do ano, o celular da moda, perca cinco quilos, encontre um amor, tenha três samambaias, um labrador e uma Alexa que a felicidade vem. Só que a gente corta para a realidade, e a felicidade não vem, né? Ou ela vem. Mas ela não vem pura. Ela vem junto com o boleto, com a fatura do cartão de crédito, com a DR, com a louça na pia, com a terra seca da samambaia que precisa regar – se não ela morre. Vem junto com a mania chata do outro na relação, que a gente tem que lidar, pq é uma pessoa – e não um avatar de rede social. Felicidade é percurso, mas tem sido vendida como mercadoria. E a gente tem caído nessa.
Eu já tinha escrito umas três vezes e apagado todas para escrever de novo. Por último, achei que tinha ficado suficientemente razoável. Larguei a caneta, fechei a porta. Foi só entrar no quarto que me apareceu uma ideia - melhor que todas. Não sei porque, mas no lugar de celebrar, senti um cansaço intenso e uma auto-acusação. Ia ter que refazer, porque não tinha pensado nisso antes. Mas o sentimento não esticou. Virou outro. Naquele caos mental, me vi dizendo: o aperfeiçoamento vem no caminho, não adianta querer nada, se você não tiver disposta a melhorar enquanto anda. Mas também não se engane, você não vai conseguir andar o ano todo, num dia só. Equilibrio, me aconselhei, autocompaixao e curiosidade. Fervi um chá, voltei depois. Foi bom.
Na casa dos meus pais os interruptores de luz eram de girar. Isso quer dizer que o ambiente ia clareando ou escurecendo a medida que você girava o interruptor. Mesmo que você girasse rápido, clareava ou escurecia gradativamente, não era de uma vez. Não tinha como fugir disso. Não tinha como não ser aos poucos. Hoje eu tava lembrando desse interruptor. Pensando nas minhas últimas transformações de fora e de dentro. Pensando que se eu fosse encontrar uma imagem para essas transformações, talvez se parecesse com isso. Com o interruptor da casa dos meus pais. Porque dificilmente uma transformação ela é como um interruptor tradicional, que vai de um ponto a outro num segundo. A maioria é como esse interruptor que gira e passa por vários momentos de meios tons, de meio escuros, até chegar no claro. E nesse meio, muita coisa. É sobre mudanças, paciência e intenção o episódio dessa semana.
Há uma tensão no ar…você fez aquilo que era verdadeiro, mas agora parece que você deveria ter feito outra coisa. E aí estoura um conflito dentro de você: ser verdadeiro ou estar certo para aquelas pessoas? Têm situações da vida que é exatamente essa bifurcação que se abre: ser verdadeiro ou caber na verdade das outras pessoas? Ser veredeiro comigo ou caber no que as outras pessoas acham que é o certo? Ser verdadeiro ou se adequar as expectivas externas ou do seu eu mais rígido? Tudo isso me lembrou aquele dia. Aquele vinho. Aquela situação.
A filósofa Lúcia Helena Galvão diz que a vida dialoga com a gente. Sincronias, sinais, situações que se repetem. Ela diz: a vida tá o tempo todo falando com a gente. Eu concordo. Eu acredito. Eu experimento isso, mesmo antes de conseguir dar nome. Claro, há tempos e há tempos. Às vezes perco os sinais de vista. Não enxergo. Entendo por outras formas. Porque há sempre outras formas. Mas recentemente a lição - a mesma lição - chegou e eu me dei conta. Agora, to tentando aprender. Talvez seja um dos meus chefões. Fluidez, sustentação e rigidez é o tema dessa quarta. Cê vem?
Esses dias, uma cena da minha infância me voltou. Eu e a minha mãe na sala e ela me ensinando uma coisa que, muitos anos mais tarde, me ajudaria a nomear um incômodo difícil de dar nome. Um incômodo que ficaria mais fácil de nomear - nas outras tantas vezes que veio, porque eu o já conhecia. Um ensinamento simples, mas que, na minha vida, foi revolucionário. É essa história que eu conto hoje.
Não é sobre a garantia de que a água vai dar pé, que vai tá calma, que as ondas vão ser pequenas, mas sobre não esquecer a razão da gente tá ali – nadando.
Acontece o pior: ninguém se sente visto e ouvido. E aí quando a gente não se sente nem visto, nem ouvido, a gente geralmente sente raiva. Ou ressentimento. Ou vontade de punir o outro. Porque as nossas necessidades não estão sendo atendidas. E aí a raiva, o ressentimento, a vontade de punir, são os alarmes de que tem alguma coisa fora do lugar, de que a gente precisa fazer alguma coisa…de que a gente precisa fazer alguma mudança…de que a gente precisa escutar isso que a gente não tá escutando…e até nisso a história da Eloise e da Alice é muito parecida com a de muitos de nós…porque elas só decidem comunicar o que tá acontecendo depois que dá uma m#rda muito grande.
A gente até pode mandar mais uma mensagem, fazer mais uma ligação, mandar mais um e-mail, tentar encontrar mais um jeito de fazer aquele outro ficar. Mas a real é que o que move os afetos, nem sempre depende daquilo que a gente faz. Ou controla. Na verdade, controle mesmo, nem deveria entrar nessa equação.
Cê já chamou alguém pra conversar? Tipo, cê tá vendo a pessoa ali, angustiada com uma questão, se debatendo com um assunto, sem coragem pra assumir o que ela quer – Ou não quer – e aí de fora, vendo tudo aquilo, você pensa: deixa eu lá ir ajudar ela? Então, naquele dia, eu era a pessoa que precisava de uma conversa. Mas eu também era a pessoa que ia me chamar pra uma conversa séria.
Eu venho pensando muito que a pergunta que a deveria se fazer, não é o que eu deveria fazer para ser alguma coisa. Mas sim o que eu deveria fazer para que eu seja cada vez mais eu. O que eu deveria fazer para eu eu não precise fugir de mim. Mas ao contrário, para que eu possa ir ao meu encontro.
Eu não sei como é aí pra você, mas a minha vaidade quer decidir o que eu posso ou não sentir às vezes. Ela quer dizer se isso combina ou não com a imagem que eu tenho de mim mesma, quer julgar o que vale ou não ter medo, quer questionar aquilo que – aparentemente parece banal, mas que tá me fazendo perder o sono. E aí, nessas horas, eu geralmente fico cindida por dentro. Metade sentindo, metade julgando o que eu tô sentindo. Mas naquele dia, eu lembrei daquela história. E ela me resgatou.
Tem uma parada acontecendo na maior parte das conversas que eu tenho com os meus amigos que estão na faixa dos trinta e poucos. Uma coisa que a gente poderia chamar de encontro com a realidade. Ou de amadurecimento. Ou dois dois. São ideias que têm aparecido na maior parte das nossas conversas, mas que certamente tem feito diferença na minha vida.
Naquele dia mais cedo, eu estava sentada no chão da sala, com uma tesoura enorme, cortando as folhas secas da samambaia, quando a Amanda chegou. Eu comentei com ela sobre como estava difícil acertar a rega, fazer com que a planta ficasse bonita. A Amanda ouviu e perguntou: mas será que é a rega que você tá errando? Será que esse jeito que você tá cortando as folhas não tá gerando mais dano do que benefício? E aí eu lembrei que até na hora de cortar, a gente tem que tomar cuidado. A gente tem que saber o que a gente tá cortando. Porque às vezes, como recentemente eu ouvi de uma psicóloga maravilhosa, a Laura Almeida, a gente tenta organizar algo, sem antes entender esse algo. Vale para plantas, vale para vida.
Uma reflexão sobre deixar que as coisas sejam boas, apesar da possibilidade do fim.
Em alguns momentos a vida bifurca. É como se ela se divide-se entre dois caminhos. De um lado, o que esperam ou o que a gente acha que esperam de nós. Do outro, onde moram os nossos sonhos. Trata-se, muitas vezes, de escolher o desconforto seguro ou o conforto solitário. Embora essas duas coisas podem se misturar ao longo da estrada. É preciso coragem pra abrir novos caminhos. Essa história é uma história disso.
Ansiedade 4 armadilhas, 4 aprendizados
Tem uma coisa que é cuidar de planta, que se parece com a vida, e que é topar o risco. Topar o risco de não saber exatamente o que tá fazendo ou de chegar muito perto do que é para fazer, mas mudar de caminho, justamente porque não sabia que era é isso que tinha que fazer. Topar o risco de pecar pelo excesso. Ou evitar isso e acabar faltando. Topar o risco de se sentir insuficiente justamente por não saber o que é exatamente para fazer. Por se sentir completamente perdido. Tem uma coisa que é cuidar de planta, que lembra muito viver. E é topar, quando possível, as incertezas.
Algum tempo depois, eu encontrei essa minha amiga de novo. Ela tava me contando que o pós término tinha sido difícil. Mas que ela continuou caminhando porque o lugar que tinha ficado pra trás não existia mais pra ela. Não tem o que voltar, quando aquilo que ficou pra trás não cabe mais. Ela continuou caminhando. Até que ela se encontrou na nova vida. Descobriu que era apaixonada por mostras de cinema, por andar de moto e por fazer enfeites com folhas secas. No dia que a gente se encontrou, ela disse que um cara legal tinha aparecido, mas que ela não queria abrir a porta para ele por enquanto, porque ela tava curtindo demais esse novo lugar que ela tinha chegado.
Eu tive um sonho muito simbólico algumas noites atrás. Era noite, eu tava sentada numa mesa de bar e contava de uma experiência que para mim fazia muito, muito sentido. Antes de terminar a frase, uma mulher, do outro lado da mesa, me interrompia para falar que aquilo que eu tava dizendo não fazia sentido algum. um susto desconfortável me tomava o corpo, então, em resposta, eu dizia: 'mas ninguém precisa validar o que precisa fazer sentido só para você. a sua vida só precisa fazer sentido para você! Respondia para ela, como se tentasse a convencer. Acordei, esqueci do sonho, fui tomar café, fazer exercício, trabalhar. Fim do dia, entrei na terapia. Lembrei do sonho. Mas foi só começar a falar que me veio um detalhe que eu tinha esquecido: a mulher que me censurava era muito parecida fisicamente comigo. na verdade, no meu sonho ela era eu. quem tentava se expressar, a partir do sentir, era eu. mas quem dizia que aquilo não fazia sentido era eu também. eu era as duas coisas.
Esses dias, cheguei do mercado e fui guardar a água sanitária no armário. Na hora de sentar no sofá, eu vi que tinha uma mancha enorme na minha calça preferida. Tinha pingado a água sanitária ali, quando eu guardei o frasco. Entre a raiva e a aceitação, fiquei pensando em todas as roupas que eu gostaria de ter manchado no lugar daquela. Ao mesmo tempo, me dei conta de que não tinha como, porque era aquela a minha calça preferida, era aquela a calça que eu mais usava, era ela que tava sempre comigo. Portanto, mesmo tomando todos os cuidados, eu infelizmente falharia com ela, mais do que com qualquer outra roupa que eu usasse eventualmente. É o paradoxo das coisas preferidas. São as que a gente tem mais afeto, as que a gente mais se sente à vontade, mas também são as que a gente mais assume o risco de falhar e que geram mais angústia pelo risco de perder.
Eu tava varrendo embaixo da mesa, quando vi aquele quadro de novo. Ele tinha sido da minha tia e foi pra minha casa, quando ela se mudou e perguntou: alguém quer? Eu quis, era um quadro bonito. Semanas depois, meu pai tava segurando o quadro em todas as paredes da minha casa, enquanto perguntava: e aqui, sim ou não? Era tudo não. O quadro era bonito, ficava lindo na casa da minha tia, mas não tinha lugar na minha. Olhando pro quadro, pegando pó do lado da mesa, pensei: isso parece com o processo de autoconhecimento. É preciso saber o que parece bonito e tem valor, mas não cabe na vida da gente. Pra, a partir dessa constatação, deixar espaços abertos pro que é bonito, tem valor e cabe.
No meio da sessão de terapia, eu me dei conta. Eu tinha levado o mesmo assunto por três vezes seguidas. E tava ali incomodada por isso, achando que eu já deveria ter entendido. Acabei dizendo: a gente já passou por aqui, né, Renata? E ela disse "já.... mas não tem problema, sabe por que? Por que provavelmente, alguma coisa ficou para trás...a gente tá voltando pra buscar." Achei isso lindo. Pensar o processo da terapia, do autoconhecimento, como um caminho que a gente faz muitas vezes o mesmo percurso, porque cada vez que a gente faz, a gente percebe uma outra coisa. Porque cada vez que a gente faz, a gente se sente pronto para perceber uma coisa nova. É por aí que vai a nossa mesa de bar. Cê vem?
Sábado passado, eu peguei a minha caixa de primeiros socorros. Ela é um caderno que eu guardo no fundo do armário e pro qual eu recorro sempre que eu preciso trocar os quatro pneus do carro, com o carro em movimento. Ou seja, quando eu preciso equilibrar ou entender a minha própria vida. Com o caderno no colo, eu sentei de pernas cruzadas em cima do sofá e fiz uma lista. Lista bem estar, eu chamei. E fui anotando ali tudo que me dá essa sensação. A sensação de bem estar, de estar bem. Coloquei várias coisas ali - banho no escuro, dormir cedo, samba em dia de sol, amigos. Mas a parte mais legal disso foi a hora que eu fechei o caderno e pensei: agora vamo ver como essa lista continua.
Me repito isso como mantra: é preciso resistir à tentação de personalizar as pessoas. A gente tá num tempo em que a gente personaliza tudo, né? A gente personaliza a tela do streaming, a gente personaliza as redes sociais, a gente personaliza o app música. O ponto é que a gente não tem parado por aí. Quando chega nas relações a gente continua buscando isso.
Ser múltipla me salvou
Eu não prestei atenção no que eu estava fazendo. Só me dei conta depois. Sentada no sofá de casa, peguei o celular e digitei alguma coisa que fez com que aparecesse um documentário sobre idosos que surfam, pulam de paraquedas, pintam o cabelo, viajam o mundo. Há dias eu tava com medo da velhice. Quando terminou o documentário, eu descobri que o meu medo não era exatamente da velhice. Era o medo de uma vida que acaba antes do fim.
Anos atrás eu encontrei uma vizinha que eu não via há muito tempo. A gente se encontrou no meio da calcada que levava pro condomínio e naquele silêncio até chegar em casa, a gente foi alternando na missão de puxar um assunto pra preencher aquele momento. E aí ela começou me contar que em uma semana ela ia fazer uma viagem de navio pra solteiros. Ela tinha cansado de aplicativos, de encontros chatos, de pessoas que pareciam legais, mas na verdade não sustentavam meia hora de date, e aí uma amiga dela falou desse navio. Desse Cruzeiro. Ela resolveu tentar. E aí ela disse: "eu vivo num dilema. na época que eu tava namorando, eu achava que tinha uma vida imperdível lá fora, que eu poderia viver se eu fosse solteira, e agora que eu tô solteira eu acho que tem uma vida que eu tô perdendo por não estar namorando E aí a gente riu mto, porque no fundo a gente fica procurando aquela coisa que vai ser paraíso e só paraíso. E no fim... o inferno são os outros, mas o paraíso também. E essa ambiguid
Parece bobo, mas desde então eu tenho prestado atenção nisso. Quais são os caminhos que poderiam ser outros caminhos? O que é a coisa que se eu virar o olhar um centímetro eu posso ver de outro jeito? E me pergunto isso não para ser otimista ou negar a realidade, mas pra que eu possa me libertar de lugares que eu não preciso estar mais.
Quando a gente integra quem a gente é, a felicidade pode ser agora. E isso inclui sair da idealização, que é essa busca por esse lugar que um dia eu vou chegar, que um dia eu vou ser, que um dia vai acontecer e que nunca é agora.
que mantém uma relação de amizade por tantos anos, além do amor? Esses dias fui na casa de uma amiga, que sou amiga há muitos anos, e enquanto ela procurava a chave pra abrir a porta, eu fiquei olhando pra casa dela. Ela mora numa casa de rua, toda rosa clara. Mas que já foi bege, laranja, amarela...E branca também. Parte dessas mudanças participei, parte delas assisti. E parte minha tem curiosidade de saber o que vem depois. Mais tarde, conversando sobre isso com ela, percebi que parte da minha resposta pra essa pergunta tem a ver com a metáfora que é essa casa: amizades longas se sustentam na abertura e liberdade pra ser. e pra deixar o outro ser. Se a gente conseguir se encontrar em todas as nossas versões além de amor, intenção e construção - sem dúvida - tem sorte.
Existe um tipo de incômodo, de dor, de medo, que são aqueles que mostram que a gente tá excedendo os nossos limites. É um tipo de incômodo que você sai pior do que você entrou, que doi ou que incomoda num lugar da sua estrutura, que você sabe que tem algo de errado, algo que não tá funcionando direito. Mas existe um outro tipo de dor, de incômodo, de medo que a gente sente em alguns caminhos da vida, que são muito parecidos com a dor de um alongamento. É aquele que a gente sente quando a gente tá esticando, mudando de tamanho, de versão, de jeito de estar no mundo. É preciso diferenciar os dois pra não desistir de coisas que a gente deveria continuar, mas também para não continuar em coisas que às vezes seria melhor desistir. Diferenciar é importante, e difícil. Libertador também. Nesse episódio conto as minhas tentativas de fazer isso.
Era um lambe grudado na parede. um entre vários, mas meu olhar parou ali. ele era todo branco com um figura no meio e uma pergunta: tem tempo para viver? Na época eu trabalhava demais, sempre correndo de um lado pro outro, e achei que era sobre isso aquela pergunta. Respondi do jeito que pude e segui vivendo. Mas hoje sei que não. Na verdade, naquela época mesmo, eu já estava construindo uma outra resposta. Te conto o fim dessa história no episódio dessa quarta no @spotifybrasil cê vem?
A Juliana acha que as pessoas sempre gostam dela por um fio, por um triz, por um descuido. Ela tem a sensação ser ligada às pessoas por uma espécie de um laço de cetim que, a qualquer momento, pode se desfazer. Ela não vai ter essa sensação para sempre, depois de um tempo ela vai mergulhar num processo de autoconhecimento profundo, que nada mais é do que se abrir pra vida e pra as experiências se fazendo perguntas, tolerando a busca por respostas e sendo honesta consigo. E isso vai mudar. Essa sensação do laço de cetim vai mudar. Mas por enquanto a gente tá naquela sala dos anos 90. E guiada por um desejo inconsciente, ela vai fazer uma coisa que ela só vai entender, de verdade, anos mais tarde.
É fácil não reconhecer e não validar nossos cansaços nos tempos atuais, porque nos tempos atuais a gente se sente cada vez mais devendo. A gente sente que tá sempre falhando em alguma coisa. E se a gente tá o tempo todo com a sensação de que tá falhando em alguma coisa, de que a gente podia tá fazendo mais, ou que alguma coisa ficou pra traz, descansar parece imerecido. E aí vira um ciclo vicioso, porque se eu sinto que eu tô sempre devendo, eu tô sempre olhando pro que falta, e como meu olhar tá na dívida, eu me desconecto completamente do que eu já fiz e, portanto, não valido e nem reconheço o meu cansaço. E aí é isso, apagão. Contra essa lógica, uma das coisas que o meu corpo mais tenta me mostrar nos últimos anos é que: se tem cansaço, tem um histórico. Melhor ouvir.
A gente vem de uma construção e de uma narrativa histórica que vende o amor e as relações como um encontro entre duas almas que se completam. E aí dentro dessa narrativa não existe solitude, não existe eu casal e eu sozinha, você casal e você sozinho, porque tudo o que eu preciso eu encontro em você, e tudo que você precisa você encontra em mim. E aí acho que o amor começa quando a gente sai dessa idealização. Sai dessa ideia irreal de completude. E vê o outro. E vê a gente. E vê o encontro como aquilo que é suficientemente bom, apesar do que falta. Porque vai faltar. Me parece que é só saindo da lógica da completude que dá pra pensar no amor, no encontro e na solitude assim - junto. E, portanto, a gente também.
Eu estava esperando meu café chegar, quando uma cena na mesa da frente me chamou a atenção. Duas pessoas, que pareciam irmãos, estavam dividindo um petit gateau. Perto de acabar o doce, uma das pessoas disse: "você sempre pega um pedaço grande quando o bolo tá no fim". No que o outro responde: "no lugar de me vigiar, pega um pedaço grande você também, ué". O que era quase a mesma coisa do que dizer: para de controlar o meu desejo e vai realizar o seu. Documentário citado: "Eu maior" - tem disponível no Youtube
"Sabe quando a gente sente que se perdeu tanto de si que já não sabe como voltar, ao que voltar? Quando chegamos naquele ponto do processo em que entendemos que temos que voltar para nós, que é impossível ser feliz fora, mas a gente não sabe mais quem foi, quem é?" Semana passada eu recebi essa mensagem de uma pessoa que senta aqui na nossa mesa de bar. E a minha resposta para ela foi: já, já passei por isso. Nesse episódio 200 do "Para dar Nome às Coisas" eu te conto das vezes que eu me perdi e das minhas tentativas de me encontrar.
Esses dias, depois de viver uma situação em que eu topei a vulnerabilidade de peito aberto, meu inconsciente trouxe a imagem do sofá branco que tinha lá em casa. Por anos ele foi um sonho da minha mãe. Daqueles que ela ficava olhando nas revistas de móvel, enquanto juntava dinheiro pra um dia, quem sabe, ter um igual. Um dia esse grande dia chegou. Ela conseguiu entrar na loja e trazer o sofá branco para casa. Mas assim que ela segurou a porta pro montador colocar ele no meio da sala, o medo de manchar, de estragar, de perder o sofá sentou ali, com a gente, junto. Ao realizar o sonho, ao se abrir para aquela felicidade, ela também se abriu para a vida do jeito que ela é - um tanto incontrolável. E topou isso, porque minha mãe era dessas. Mas passados anos dessa memória, fiquei pensando nesse cruzamento de informações e imagens - de sofá e vulnerabilidade - que o meu inconsciente estava trazendo ao passo que eu pensava se tinha valido a pena, mesmo, assumir meu peito aberto naquele dia.
No começo do ano, durante uma viagem de férias, eu descobri que eu amo coentro. Quero dizer, eu passei a vida inteira amando coentro, mas sem saber que o nome daquilo que eu gostava era, de fato, coentro. Fato é que eu voltei da viagem e passei a comprar coentro em quase toda minha ida ao hortifruti. E isso que poderia ser só uma experiência gastronômica, acabou virando muito mais do que isso, porque me lembrou que nomear as coisas não muda as coisas, mas muda o jeito que a gente pode se aproximar ou se afastar das coisas. Enquanto eu não sabia o nome daquilo que eu gostava, eu não podia comprar aquilo. Ou pedir aquilo. Ou me aproximar daquilo. Ou falar: "coloca mais". O contrário também vale, também é verdadeiro, quantos pratos a gente joga fora ou quantas experiências que poderiam ser boas se tornam ruins porque a gente não sabe o nome do que incomoda, do que faz mal? Nomear é importante não para definir, mas para libertar.
desses eu tava lembrando de uma coisa que sempre acontecia na casa de uma amiga na adolescência. Sempre que ela ia sair e colocava uma roupa bonita, a mãe dela enfiava a mão dentro de uma gaveta da cômoda da sala e tirava de lá uma máquina de fotografar analógica. Ela pedia para minha amiga se posicionar no meio da sala e tirava uma foto, porque sabia que aquele momento era, em alguma medida, um momento especial. Um momento extraordinário. Um momento que não acontecia sempre. Anos depois, enquanto eu organizava meu guarda-roupa num sábado a noite, enquanto o bar da rua apelava com uma playlist maravilhosa, eu lembrei dessa história. E sei que lembrei porque uma parte em mim tava sentindo que tinha algo de errado com meu fim de semana. Alguma coisa errada em estar no chão, dobrando roupas, e não enfiada em alguma festa muito legal. Foi, no entanto, uma sensação que durou pouco. Porque logo lembrei da minha amiga. Lembrei daquele hábito dela de se deixar fotografar num dia que era extra
Recentemente, uma amiga nossa de bar me perguntou se tinha algum episódio sobre sobre criar expectativas. Ela, na verdade, me dizia que era uma pessoa que criava expectativas demais e que achava isso nem sempre bom. Respondi para ela que não lembrava de ter gravado algo nesse sentido, trocamos algumas mensagens sobre esse assunto, e levantei do sofá para fazer arroz. Acontece que na hora que o alho e cebola se juntaram no fundo da panela quente, meu corpo me transportou para os domingos dos anos 90 na casa dos meus pais. Quando minha mãe cozinhava demorado e eu ficava vidrada na frente da tevê, esperando o momento em que o Gugu, apresentador do programa da época, ia fazer aquela gincana que sempre terminava com um caminhão de brinquedos estacionado na frente do portão da pessoa. Eu sonhava que um dia isso ia acontecer lá em casa. Sonhava que um dia seria comigo. Mas nunca foi, porque eu nunca mandei a carta me inscrevendo. Ele não sabia quem eu era, eu nunca me apresentei, não tinha fi
Eu lembro da sensação de fugir do que eu tava sentindo, porque eu tinha um medo enorme de nunca mais conseguir sair daquele lugar. Corta para anos depois, e eu tô ali percebendo que, paradoxalmente, a coisa só passou quando eu fui ao encontro daqueles sentimentos, quando eu os escutei, quando eu entendi o que meu corpo tava dizendo e quando eu dimensionei o que era. Quando eu dei o devido tamanho. De tudo ficou o aprendizado que às vezes a gente foge das coisas porque acha que elas não vão passar. Vão. A vida é ciclo. A gente é ciclo. E passar por momentos ruins, não significa que a gente vai ter que morar lá. Não mesmo.
Eram duas pessoas sentadas numa muretinha de uma cidade praiana. Uma delas dizia que tinha terminado uma relação há algum tempo, mas ainda não conseguia fechar a porta. Aquela que existia do lado de dentro. O amigo, depois de escutar a história, tirava um bloco de notas do bolso e pedia para ela escrever tudo que estava difícil de deixar pra trás. Ela fazia. Então eles iam para casa de um deles e colocava fogo no papel. Era um ritual de despedida. Lembro de ver essa cena e primeiro achar bonito e significativo. Depois de alguns anos achar raso e superficial, porque ninguém desapega por queimar um papel. E por último achar que aquilo era a representação de um primeiro passo. Ritualizar não muda o cenário, mas muda a intenção. Muda a clareza. Eu não percebi isso vendo o filme, mas ouvindo a minha intuição que um dia - anos mais tarde - disse: "escreve uma carta e guarda no fundo da gaveta. Só abre se isso que você teme acontecer" Naquele dia levantei do sofá com coragem.
"Como lidar com a sensação de que todo mundo está avançando menos você? No fim, como lidar com a inveja?" Dia desses uma amiga nossa de bar me fez essa pergunta. E entre todas as que eu recebi nos últimos tempos foi a que eu mais gostei. Eu gosto de falar de inveja. Acho um sentimento genuíno, verdadeiro e que ensina muito quem quer aprender de si. É uma pena, só, que a gente pare na vergonha e na culpa de sentir. É uma pena que a gente tenha tanto medo dele. Reconhecer a inveia pode ser um caminho pra encontrar várias coisas escondidas dentro da gente. Há caminhos que surgem nesse momento. Não que não seja desconfortável, mas não qje não seja libertador também.
Eu estava conversando com um rapaz sobre um livro que ele tinha lido e que quase todo mundo no meu ciclo leu também. Ele me dizia que tinha amado e me perguntou: você leu?" Eu disse que era o próximo que eu leria. Então ele falou: "tem gente que ama e tem gente que odeia. Quem não gosta, não gosta do final. Eu amo porque, sobretudo, eu entendo que aquela história é a história daquela autora. E eu acho que ela só podia tomar as decisões que eram dela, não as que eu achava que ela tinha que tomar." Essa conversa colou no meu corpo e me levou pela mão para sete anos atrás quando algo parecido aconteceu comigo. É por aí que vai a nossa mesa de bar dessa semana. Cê vem?
É a história de um elefante que aparece no meio da cidade. Ninguém nunca viu um elefante nesse lugar e o boato que tem um animal grande por ali se espalha e chega na casa de uma menina que é muito curiosa. Ela vai até lá, olha o animal, e quando chega em casa diz: 'ele tem uma barriga muito grande'. O vizinho dela faz a mesma coisa e quando chega em casa diz: 'ele tem a pata muito grande' Duas ruas acima, uma senhora vai lá e constata: 'ele tem um rabo muito grande'. Todo mundo viu o mesmo animal, mas cada pessoa viu um pedaço diferente dele. Meu processo de entender, acolher e cuidar da minha ansiedade se parece com isso. Com uma única diferença: eu sou todas essas pessoas, a depender da fase da vida, olhando e reconhecendo mais uma parte desse bicho muito grande. Nessa fase, nesse episódio, eu te conto mais uma parte dessa minha compreensão que passa por reconhecer a ansiedade e depois mergulhar num processo de autocuidado e generosidade.
A gente tava nos últimos dias de um trabalho que tinha durado um ano inteiro e pro qual eu tinha me dedicado muito. Mas ali, nas últimas semanas, eu não aguentava mais pensar naquilo, nem ver aquilo, nem opinar sobre aquilo. Eu só queria, muito, que aquilo terminasse, então eu fiz uma coisa que eu nunca tinha feito nos onze meses anteriores, eu disse: "tanto faz" para uma decisão que mudaria o rumo de tudo que eu tinha construído até ali. Na época, eu ainda não tinha construído pra mim uma imagem mental que me ajuda a não desistir, quando tudo o que eu preciso é descansar. Mas a vida é cíclica e, anos depois dessa cena, algo parecido aconteceu de novo. Eu estava quase abandonando algo muito precioso quando a imagem de uma gangorra veio na minha cabeça. Eu encontrei um novo jeito e entendi o que era preciso fazer. É sobre lembrar de descansar, sem abandonar os nossos sonhos, o episódio dessa semana. Cê vem?
"Poderia falar sobre se sentir estagnado na vida? Eu vou fazer aniversário mês que vem, 33 anos, terminei recentemente um noivado, ainda moro com a minha mãe. Embora o nosso relacionamento seja incrível, meu sonho é morar sozinha. Resolvi investir num negócio assim que me formei e a instabilidade financeira deixa tudo muito difícil" Recebi essa mensagem de uma amiga de bar. Deixei ecoar por dias essa pergunta até que me senti pronta para gravar esse episódio. Te encontro amanhã na nossa mesa de bar, cê vem?
"Como eu faço para superar?". Na última semana, eu recebi essa mesma pergunta, em diferentes contextos, e ela me levou para um dia em que eu tava presa num trânsito, pensando a mesma coisa. "Como eu faço para superar?" Eu queria, assim como quase todos nós, deixar aquilo que dói para trás, como quem se suspende acima da realidade. Mas precisei de um tempo a mais de vida para entender que 'superar' não é algo que eu faço, é algo que acontece depois que eu me coloco para atravessar. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
No fim do ano passado, eu decidi que ia aprender mais sobre organização. A ideia era organizar a minha rotina para que eu pudesse fazer um pouco mais da coisas que eu gosto, inclusive nada. Mas de repente a intenção que tinha me movido para aquele compromisso comigo mesma se perdeu e eu comecei a perseguir o modelo ideal de organização. Ou seja, me descolei do "para que" eu tava fazendo aquilo, que era deixa minha vida mais leve, e grudei no "o que", que era organizar. E o que era para deixar mais fácil virou o oposto. Algo muito parecido com o que tinha acontecido naquele outro ano. É por aí que vai o episódio dessa quarta-feira. (SIM, voltamos de férias, tava com saudade.
Esses dias, enquanto eu almoçava, uma imagem me veio à cabeça. A imagem de uma piscina de prédio, aquelas que sempre lota quando tá calor. Na beirada da piscina tem um garotinho de, no máximo, sete anos. Ele tá vestido com uma sunga de super herói, com uma marca de protetor solar bem em cima dos ombros, e tá suando muito, porque tá muito calor. O menino quer muito entrar na piscina - é o que ele mais quer há dias - mas tem um problema: ele não sabe nadar e não quer usar as boias. Usar as boias é reconhecer que ele não sabe fazer aquilo. E ele não gosta de parecer que não sabe fazer as coisas. Então ele não usa as boias, nem entra na piscina. A boia é aquilo que permite ele fazer o que quer, mas exige em troca que ele reconheça que é humano. Somos todos, em alguma medida, o menino. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
A real é que eu acredito que coisas boas dão trabalho muitas vezes. Muitas delas dependem de esforço, de construção, de tentativa e erro. Não tem nada de errado com isso. O problema é acreditar que para ser bom tem que ser difícil, porque aí a gente começar a se manter em situações horríveis, das quais a gente podia sair, porque tem uma lógica dizendo que quanto mais complicado, mais valor pras coisas e para gente. Tenho me repetido todos os dias, sem faltar um, que coisas boas podem e devem ser fáceis também. E é exatamente elas que eu quero. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Na minha família tinha uma coisa que envolvia lavar a louça que sempre me tocava muito profundamente Toda vez que alguém quebrava um copo sem querer, a primeira coisa que a minha mãe fazia era recolher os cacos. Ela pegava a pá, a vassoura e começava a puxar os pedacinhos de vidro. Mesmo que a gente já tivesse quebrado muitos nos últimos meses, mesmo que só tivessem ficado dois copos de cada jogo no armário, mesmo que a gente tivesse errado na quantidade de sabão, fazendo ele escorregar, não importava a circunstância, ela sempre recolhia os cacos. Nesse gesto era como se ela tivesse falando, sem dizer, que quebrar os copos é parte do risco de quem lava a louça. Portanto, não há acusações, nem alardes. A primeira coisa a se fazer, sempre, é juntar os cacos. Depois disso, se fizer sentido, pensar no motivo de ter escapado.
Minha cabeça tava a milhão quando eu decidi sentar no sofá, de pernas cruzadas e fechar os olhos por dez minutos. Um silêncio profundo e quase palpável tomou conta de toda a minha casa. É como se tudo tivesse quieto. Como se eu pudesse ouvir direito pela primeira vez. Nessa quietude de que eu me dei conta de uma coisa muito importante. A voz crítica que tava me perseguindo - desde ontem - era minha. Só minha. Tava dentro, não fora. E essa percepção mudou tudo.
Isso não quer dizer que o vazio é bom. Mas quer dizer que o vazio quase sempre precede a mudança. Toda mudança nasce de um esvaziamento. Um esvaziamento de identidade, de sentido, de olhar, de crença. Era isso, para deixar algo novo vir, eu tinha que me esvaziar do que era antes. Ou de uma parte do que era antes.
Isso não é tudo. Isso não é sobre mim. Isso também passa. Esses dias, eu me dei conta de que as frases que mais me ajudam a sair de fluxos mentais negativos começam com "¡*. E é por aí que vai o episódio dessa semana. Cê vem?
Desde que eu me mudei de casa, eu me pego pensando no tempo em que eu vou conseguir receber meu pai prum almoço toda semana. A gente sentaria pra almoçar com calma, falaria do passado e presente, e daríamos risada, como a gente faz. É um plano importante, para mim, porque ele diz sobre a minha necessidade de estar presente. Mas corta para vida real e eu to almoçando na quinta, feliz porque sobrou arroz de segunda, e olhando pro relógio para não perder a hora de fazer a próxima coisa. E lá se vai o plano do almoço, de novo, para gaveta. Daí que nessa semana eu me dei conta de uma coisa. Almoçar toda semana é o meu jeito ideal de fazer isso. Mas não o único jeito. Muito menos o jeito possível. Com isso em mente, eu consegui pensar em outra possibilidade. Uma forma que, inclusive, atende a mesma necessidade. É sobre fazer as coisas do jeito possível o episódio dessa semana, cê vem?
Era a história de uma comunidade que ficava entre duas grandes cidades. As pessoas sempre passavam por lá para chegar a algum lugar, ou para ir para algum lugar, nunca para ficar, exatamente, lá. Mas sempre tinha algum viajante que não sabia disso e decidia passar a noite ali. Logo, então, indicavam a casa de uma família, onde ele poderia se hospedar desde que contasse o que tinha visto no mundo. Era esse o acordo. Ele teria sopa, uma lareira quentinha, uma cama aconchegante, mas precisaria contar dos maiores bichos que já tinha visto, das piores e melhores noites que já tinha passado na mata, de coisas que ele tinha tremido de medo. Todas às noites, eles se reuniam em volta da lareira, comiam sopa e ouviam do que acontecia fora, e todo mundo ficava feliz, porque tanto as histórias, quanto a comida nutriam. E era essa a medida, para eles, que ali havia um encontro, Não havia desigualdade. É sobre bons encontros o episódio da semana, cê vem?
Eu acho que amadurecer é também fazer as pazes com a vida prática. Dar conta de si, lembrar que a batata tá estragando na gaveta da geladeira e que a gente precisa comer mais fruta. É saber que é necessário pensar racionalmente mais vezes do que a gente gostaria porque cuidar de si é uma responsabilidade nossa. Mas eu acho acho que a gente tem que manter acessa a reivindicação do sonho. A gente precisa reivindicar o lugar do sonhar. Da beleza. Do encantamento. Das listas que só tem uma finalidade: embriagar a gente de beleza. Fazer o nosso coração quase parar de tão bonito que é aquilo que a gente tá vendo. Fazer a gente sentir - no momento presente - que a gente e a vida tá no mesmo lugar. É sobre intenção, propósito e sonho o episódio dessa semana, cê vem?
Esses dias, eu fui fazer uma viagem a trabalho e na volta perdi o voo. Andando pelo saguão do aeroporto fiquei pensando em tudo que eu poderia ter feito diferente para as coisas darem certo. Para acontecerem como o planejado. Um turbilhão de "e se". Foi então que uma parte de mim disse: o que eu tenho é o que foi, o que eu tenho é o que é agora, e a vida sempre se reorganiza no movimento. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Esse não é um manual, nem um guia, nem um tutorial sobre como dar nome aquilo que a gente sente. Mas é, certamente, uma lista com quatro coisas que eu faço e que me ajudam muito a entender o que se passa dentro do meu peito. Espero que ajude você também.
Esses dias eu percebi que não eu queria ir num show que eu tinha comprado o ingresso já fazia alguns meses. Chegou o dia e a vontade não chegou. Fiquei pensando em todas as perdas que eu teria se eu não fosse, tentando encontrar um motivo pra ir, mesmo com preguiça. Até que uma hora, eu me dei conta: por que eu to adiando uma decisão que eu posso simplesmente fazer? Não é isso a delícia de ser adulto? Poder olhar para as coisas, poder olhar para as vantagens e as desvantagens das coisas, e bancar a nossa decisão? Não é essa a parada que faz a vida ser boa, também? Saber que você pode escolher, saber que você pode decidir, olhar para as linhas pequenas do contrato que é viver e pensar: ótimo, entendi, quero continuar. Ou ótimo, entendi, vou pular desse barco? Ou ótimo, entendi, vou fazer novas cláusulas nesse contrato? Cara, tem um monte de coisa que a gente não pode escolher abrir mão. Tem um monte de coisa que tá dada, mas aí quando a gente pode escolher, a gente não escolhe? A gente
Esse dias, eu fui à padaria que eu sempre vou e pedi um suco de morango com laranja. Enquanto eu ainda olhava o cardápio, o garçom voltou com uma pergunta: "você quer açúcar?". E eu respondi: pouco. Tempos depois, o suco chegou. No primeiro gole eu fui transportada para semanas atrás em que a mesma cena tinha acontecido. Eu tinha pedido com pouco açúcar, mas veio exatamente como estava agora: muito doce. Olhei em volta, procurando ele, e fui levantando meu braço para dizer: 'moço, pedi com pouco, veio com muito, mas, no meio do movimento, parei. Por que afinal, o que é pouco? Uma colher? Meia? Mas rasa ou cheia? O que é pouco para mim? Às vezes a gente esquece que não há medidas universais de pouco e de muito. Tudo depende da nossa experiência, do nosso desejo, da nossa trajetória, da nossa expectativa, de tudo isso. É preciso, então, ir mais fundo para entender e se fazer entender. Vale para padarias, vale pra tudo fora dela. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Como se minha vida fosse um livro e eu tivesse deixado aquele capítulo para trás. Coisa que seria natural e até razoável que acontecesse, se, junto com essa virada de página, não tivesse ficado para trás também toda sensação de que eu era uma potência. E eu não queria me esquecer que eu era uma potência. Não queria me esquecer que era eu que estava lá, que fui eu que segurei os melhores e os piores dias desse processo, que fui eu que abri mão de um monte de coisa, que renunciei várias outras, que segurei a minha onda várias vezes, em momentos que tudo que eu queria era soltar. Eu não queria deixar que isso virasse um borrão, porque seria esquecer que eu mereço coisas boas, justamente porque eu luto para que coisas boas aconteçam. Tenho certeza que você também. É sobre celebrar e se sentir merecedor de coisas boas o episódio dessa semana, cê vem?
Existe um paradoxo muito interessante nos dias atuais. Que é: a gente tem tantas possibilidades de escolha, do filme ao aplicativo de comida. Do aplicativo de relacionamento aos próprios modelos de relacionamento.. Que, muitas vezes, a gente acaba esquecendo qual é a necessidade que a gente tá querendo resolver com essa escolha. A gente tá abrindo o aplicativo, e é tanta coisa, que a gente esquece do que é a nossa fome. A gente esquece qual é a nossa necessidade. A gente se desconecta do que é mais nosso, que é o nosso desejo, né? É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Isso me lembra uma frase que eu vi tatuada no braço de uma colega de trabalho, e que tem muito a ver com isso: "O que você viveu ninguém rouba," do Gabriel García Márquez. A gente pode perder muitas coisas, mas ninguém tira as experiências que eles nos trouxeram. Há algo das nossas relações com as coisas que é nossa. E que, mesmo que alguém use, replique, reproduza, não vai se repetir, porque o elemento 'eu' não se repete também. É por aí que vai a nossa mesa de bar, cê vem?
Imagina que você vai ao cinema e escolhe um filme para assistir. Entra na sala, pega a pipoca, se ajeita na poltrona, cria várias expectativas sobre aquela experiência. Mas assim que o filme acaba você tem certeza de que foi o pior filme que você viu na vida. Nunca fizeram um filme tão ruim na história. Você detesta tudo: o roteiro, o diretor, os atores, o enredo, tudo. Acontece que no dia seguinte, você vai lá no cinema de novo e, entre tantas opções, escolhe ver o mesmo filme. E, no final, reclama das mesmas coisas. No outro dia, o mesmo ritual: filme ruim, insatisfação, filme ruim de novo. Até que uma hora uma boa alma pergunta: mas por que você não troca de filme? Por que não tira sua cadeira daí? Por que, entre tantos filmes, esse? O que em você tá engajado com isso? O que isso revela sobre você, no fim? É por essa nossa frágil humanidade que a nossa conversa de bar segue essa semana, cê vem?
Esses dias eu conheci a história de um homem que conquistou coisas que a maioria de nós valoriza: reconhecimento, prestígio, aprovação, validação. Mas que, apesar disso, morria de medo do abandono. Na cabeça dele é como se tudo que ele fosse viver, por mais diferentes que fossem as experiências, no final, ele sempre seria deixado, abandonado, esquecido, não gostado. Esse medo estava em tudo praticamente. Sempre que um amigo cancelava um jantar em cima da hora ou quando mandavam uma mensagem e a resposta não vinha dentro de 24 horas, era com essa lente que ele via todas as coisas. Daí que, depois de conviver com isso por muitos anos, algo que ele não esperava nem queria aconteceu. E o que parecia que ia destrui lo, na verdade, teve outro efeito. É um abraço quente o episódio dessa semana. Cê vem?
Às vezes a gente olha para um objeto, para uma pessoa, para uma casa. Às vezes a gente sente um cheiro, come uma comida, e é invadido por uma sensação boa. Uma sensação familiar, uma sensação de casa. Uma sensação de que aquela memória tem nome e endereço. Mas às vezes não. Às vezes a gente olha para uma coisa e intui que aquilo vai nos fazer bem. Ou desconfia que aquilo já fez bem em um passado distante. Foi isso que aconteceu numa quinta-feira, anos depois daquela memória da revista. E tudo que aconteceu depois, vem disso também.
Esses dias, eu vi uma cena que me fez muito pensar naquele meme que é: uma mina casando toda feliz e o ex dela dizendo: "nossa, agora ela foi longe demais para me fazer ciúmes". Parece meio absurdo e tosco, mas quantas vezes o nosso lado menos consciente vai por aí? Colocando a gente como protagonistas em histórias em que a gente é quiçá figurante. E às vezes nem isso. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
É preciso respeitar os processo e o tempo das coisas. Amadurecer - e eu uso essa palavra aqui no sentido de chegar em outro lugar dentro - leva tempo. Mas isso não quer dizer que não dá para fazer nada. O que eu tenho aprendido é que é possível trocar o controle pela facilitação. Eu não controlo como vai ser, mas eu posso facilitar par que seja do melhor jeito para mim. Quando e se vai acontecer do jeito que eu gostaria, eu não sei, mas é onde eu decido apostar.
Anos atrás, eu liguei o computador para fazer uma pesquisa. Eu precisava de dados e informações porque tinha que escrever uma reportagem. Mas não era qualquer reportagem. Era uma que me interessava muito. Eu precisava responder uma pergunta que tava rodando muito as mesas de bar, os consultórios terapêuticos, as copas das empresas, as mesas de jantar. A pergunta era: será que o único jeito de viver bem com as redes sociais é cancelar tudo, voltar a falar por telefone, usar mapa de papel e pedir taxi usando a mão? Acabou que eu cabei conversando com uma pessoa que estudava isso. E ela me fez uma pergunta que ecoa na minha cabeça até hoje.
Esses dias lembrei de uma cena do filme 'Comer, Rezar e Amar. Aquela em que a Liz diz não querer viver uma paixão, porque ela está com medo de perder o equilíbrio. E o guru, que acompanha ela na jornada, responde: "às vezes, perder o equilíbrio por amor, faz parte de uma vida equilibrada." Faz uma vida que vi esse filme, mas ainda lembro desse diálogo. Talvez porque, como a Liz, eu confunda muitas vezes equilíbrio com rigidez. E, certamente, quando me distraio, chamo vida estática de vida equilibrada. Ainda bem que é sempre tempo de repensar. E por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Era bem comecinho do ano. Aquele momento em que algumas casas ainda estão com pisca pisca na janela, que ainda tem panetone no armário, que as lojas estão fazendo queima de estoque das roupas brancas e que a maior parte das pessoas tão com a lista de metas de ano novo na cabeça. Era tipo dez de janeiro e eu tava sentada numa padaria de São Paulo tomando um café com um amigo. A gente tinha acabado de pedir um brigadeiro, quando ele me perguntou quais eram as minhas metas para aquele ano. Eu não lembro exatamente do que eu respondi, mas lembro do que ele me disse, quando eu devolvi a pergunta. Ele falou: "ser eu, o máximo que eu conseguir." Lembro de responder: "caramba, bacana, e o que mais?" E ele me falar: Nat, já não é o bastante?". Meses depois, essa história me voltou, junto com outra. É por aí que vai o episódio dessa semana. Cê vem?
Viver não tem controle remoto. Não tem como pausar para gente não perder o nosso programa preferido, nem tem como passar para frente para chegar logo o que a gente quer muito. Viver tem espera. Exige que a gente aprenda sobre paciência, sobre aguardar, mesmo sem certeza. Mas não é porque tem espera, que tudo que a gente deve fazer, é esperar. Dá para inventar umas brincadeiras no caminho. E às vezes, a gente percebe que a brincadeira que a gente inventou, que era só um passo-tempo, acabou ficando mais importante do que aquilo que a gente queria muito que chegasse. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
A idealização é uma gravidez de um futuro que nunca vem. A gente fica esperando que a promessa, o desejo, a expectativa vire a realidade, mas não acontece, porque a idealização é o que é: uma ideia desconectada - em tudo ou em parte da realidade. Mas há de abrir espaço pra ela também, porque que tem um pouco de idealização em cada desejo e é o desejo que nos movimenta, que nos coloca para buscar outro lugar. Pensei nisso, quando encontrei aquele frasco no meu quarto. Mas essa história te conto amanhã, quarta-feira, em todos os agregadores de podcast. Cê vem?
Esses dias, eu vivi uma experiência de presença absoluta. Uma sensação de transbordamento. Foi bom de sentir. Me fez, também, querer mais. O que acabou me levando pruma pergunta, que foi: como eu trago mais dessa coisa boa pra minha vida? Deixando ecoar essa pergunta, cheguei a 5 coisas. Divido elas com vocês nesse episódio que foi escolhido pelos nossos apoiadores do Apoia-se.
Todo mundo tem uma porção considerável de mudanças para conta -sejam elas grandes ou pequenas. E talvez o que todo mundo tenha percebido em algum momento, também, é que as mudanças, mesmo quando boas, mesmo quando desejáveis, mesmo quando incríveis são antecedidas por uma espécie de cansaço emocional. Eu suspeito que isso acontece porque mudanças exigem abertura. Mas não só. Analisando as minhas mais recentes, eu notei 5 fases pelas quais sempre passo quando mudo. Nesse episódio, te conto quais são essas fases e os sentimentos, emoções e comportamentos que mais percebo em cada uma delas.
Esses dias, eu me vi numa situação que o melhor caminho era desistir. Mas mesmo que essa fosse, evidentemente, a escolha que fazia mais sentido para aquele momento, uma parte de mim queria - muito - insistir. Queria muito continuar ali. Fiquei curiosa com isso. E me perguntei: o que essa parte que insiste tá defendendo? O que ela quer? Cheguei a 5 respostas. E são elas que divido na mesa de bar dessa semana. Cê vem?
Há muitos anos eu repito um mesmo comportamento de forma inconsciente. Toda vez que eu chego num novo lugar bom, eu tento sentir aquela experiência com todos os meus sentidos. Toco, olho profundamente, sinto o cheiro, escuto os sons e barulhos. Sempre fiz isso para tentar aproveitar esse novo lugar bom com todo o meu corpo. Mas essa semana, aconteceu algo diferente. Eu precisei aguçar os meus sentidos não para desfrutar desse novo lugar, mas para me lembrar que eu já estava nele.
Vez ou outra eu me pego questionando uma mesma coisa: existem sinais? Coisas que acontecem de forma repetida são coincidência ou uma mensagem disfarçada e insistente da vida para a gente? Situações que parecem um recado objetivo e direto são só um acaso interessante ou realmente tem algo além disso? Nas últimas semanas, três situações me fizeram pensar nisso. Por mais que elas fossem diferentes, elas pareciam costuradas por uma linha invisível. E todas traziam exatamente a mesma pergunta: isso é realmente seu?
Uma vez eu ouvi uma frase do Villy Fomin que me marcou: ele dizia que nem tudo que dava certo valia a pena. E aí para exemplificar ele falava sobre uma pessoa que tinha subido muitos degraus numa empresa e quando chegava lá em cima, olhava para trás, e via que apesar de ter dado certo na carreira, apesar de ter chegado no lugar que tanto queria na vida profissional, apesar do nome no crachá, apesar da sala no andar mais alto do prédio, não tinha valido a pena. O contrário também era verdadeiro. Tem coisas que valem a pena, apesar do risco de não darem certo. Mas como diferenciar uma de outra? E por aí que vai o episódio dessa semana. Cê vem?
Esses dias, eu estava assistindo o documentário da Simone Biles e uma das coisas que mais me impactou foi a segurança dela. A forma com que ela conseguiu sustentar um "não" firme num momento que milhares de pessoas esperavam um "sim" direto e sem curva. Vendo ela fazer isso, eu só consegui pensar que esse tipo de segurança que ela acessou só pode vir de dentro. Uma espécie de clareza sobre o lugar que ela está, onde ela quer ir, mas principalmente, sobre onde ela não quer mais voltar. Uma segurança que não é sobre não escutar os outros, mas escutar e validar a si primeiro. E é por aí que vai o episódio dessa semana, c vem?
A real é que descansar tem muito a ver com confiança e, portanto, tem a ver com topar abrir mão do controle. Lembro muitas vezes de ouvir a minha mãe dizer: o parquinho não vai sair do lugar, Natália. Amanhã você brinca mais. E essa frase era precisa porque o medo era um pouco disso também. De eu perder aquilo que eu gostava muito, enquanto eu dormia, enquanto eu descansava. Como se ficar na autovigilância fosse impedir que as coisas fossem embora ou sumissem ou se perdessem ou acontecessem do jeito que elas precisavam acontecer. Como se uma vez que eu ficasse hipervigilante eu fosse mudar o fluxo da vida, por estar assistindo tudo. Não ia. Amadurecer é entender as nossas limitações. E aprender a se colocar limite Porque esse cuidado que, antes, vinha exclusivamente de outra pessoa, em algum momento precisa começar a vir, antes de tudo e primeiro de tudo, da gente.
A família que a gente aprende como a ideal no imaginário popular é aquela que não se diferencia. Um grupo em que um espelha o outro, numa espécie de continuação. A família da propaganda de margarina é mais ou menos isso, né? Todo mundo igual, pensando igual, sendo igual, desejando as mesmas coisas. Não tem um filho que quer ser artista, numa família de médico. Nem uma filha que odeia casamento, numa família conservadora. E se a gente parte desse ponto - que amor é igual a ser a mesma coisa - é claro que a gente vai morrer de medo de conflito. Porque a mensagem subliminar é: conflito é igual a desamor, a rejeição, a algo errado. Então - quando ele surge - a gente precisa se fingir de morto, fugir ou se redimir. Acontece que se um dos grandes destinos da vida é se tornar quem se é, não vai dar para fazer isso sem conflito. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Quando você passa muito tempo só se adaptando às condições, escolhendo o que é mais fácil, mais simples, mais perto, mais barato, mais disponível você não sabe muito o que fazer quando tem escolha. A sensação é que tem algo de errado, como se você tivesse recebido um presente por engano. Um presente que chegou na sua casa, mas que o destinatário não era você. Depois de alguns dias, alternando entre o desejo de fechar a viagem e a culpa por desejar fechar a viagem, eu decidi ligar pro meu pai. Falei do quanto aquele lugar era incrível, do quanto ele me parecia o único lugar que eu queria passar as férias e, ao mesmo tempo, do quanto eu tava culpada por gastar tudo aquilo. Foi quando ele me respondeu: "Nat, já teve uma época que você não podia ir pra praia mais próxima, parcelando em 24 vezes. Agora você pode você não vai? Se não for agora, quando?". E aquilo mudou tudo.
Eu já falei muitas vezes aqui sobre relacionamento. Sobre como eu acho importante a gente entender o que é negociável e inegociável para a gente. Porque o mundo não é um espelho nosso, porque as pessoas com quem a gente se relaciona são diferentes da gente, porque se a gente começar levar muito a sério esse desejo de transformar o outro numa cópia nossa, a gente acaba destruindo quem o outro é. E isso não é bom. Mas se tentar fazer do outro nosso espelho, é ruim. Não ter limite, não ter borda... aceitar tudo e qualquer coisa é péssimo também. Por isso, saber o que é negociável e o que é inegociável para gente é fundamental e intransferível. Mas a pergunta é: como faz isso? Eu li duas histórias esses dias que trazem bons caminhos. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Eu tinha 12 anos quando me perdi no personagem pela primeira vez. A professora tinha passado, como prova de fim de ano, uma peça de teatro. O meu papel era ser uma jogadora de vôlei que era sequestrada, pouco antes de um campeonato importante começar. Ensaiamos um monte e tava tudo indo bem na cena. Mas no momento da policial entrar pra resolver o sequestro, ela se escondeu atrás da cortina. E eu vendo aquilo, entre desespero e ímpeto de salvadora, entrei em cena de novo pra salvar o rolê. Sequestrada fui resolver meu próprio sequestro. Haha. Esses dias, lembrei dessa cena de novo. Não a toa. Me perdi completamente no personagem - esse que a gente usa na vida real - e pedi pra Natáli criança pegar na minha mão. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Autocuidado é insistência, porque é a gente que vai precisar encontrar um novo jeito de organizar a rotina, depois dos últimos três modelos terem dado errado. É insistência, porque tem partes nossas que resistem a fazer mudanças que são necessárias. É insistência porque tem lados nossos que não querem abrir mão do que faz mal. Autocuidado é insistência porque às vezes você vai ficar um mês sem fazer exercício por falta de tempo e de vontade, e vai precisar aprender a voltar. E é insistência, porque tem um lado nosso crítico e idealista, que vai dizer que o ideal é o único vale, do contrário melhor desistir. E autocuidado é insistir que o bom é, na verdade, o possível. Mais do que isso: é entender rápido quando o plano A fracassou para ir pro plano B. Autocuidado é, antes de tudo, o compromisso de fazer o melhor para si e a insistência em replanejar a rota, quantas vezes forem necessárias. É por aí que vai o episódio dessa quarta, no Spotify, cê vem?
Anos atrás eu li uma reportagem sobre uma skatista que tinha conseguido muitos títulos, a @karenjonz. Ela construiu uma carreira admirável e foi percursora em muitos sentidos, mas quando perguntavam para ela, qual conselho daria para quem queria começar, ela dizia: aprenda a cair. Porque a maior parte do tempo, é isso que vai acontecer. Na época, eu sofria com um perfeccionismo paralisante e a ideia de naturalizar a queda e a falha - inclusive esperando por elas, foi uma janela que se abriu na minha cabeça e nunca mais fechou. Foi isso uma das primeiras coisas que me lembrei quando, mês passado, meu perfeccionismo deu pane no meu corpo e se transformou em procrastinação.
Quem sou eu quando não estou sobrecarregada? Quem sou eu quando eu não estou ocupada? Quem sou eu quando eu tenho tempo livre? Essa perguntas me surgiram há algumas semanas, quando eu tava lavando a louça. Eu tinha acabado de entregar um projeto grande e tinha sobrado um tempo livre na minha rotina e na minha vida. E eu finalmente podia fazer qualquer coisa nas horas que tinham sobrado. A contradição é que eu tinha esperando muito por esse momento e quando ele chegou eu não fazia ideia do que fazer com ele. O que fez me perguntar: se tudo que eu sei sobre mim, é sobre minha versão sobrecarregada, como eu vou lutar por uma vida que não seja guiada por isso? É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Ela dizia que tinha anotado todas as preocupações com o futuro em um papel grande. E com preocupação, ela estava se referindo a coisas que ela estava pensando excessivamente, mas que ainda não tinham acontecido e que, sequer, ela sabia se iam acontecer. Ela pegou esse papel com todas as preocupações que ela tinha escrito, e foi dividindo em pequenos pedacinhos. Então cada pedacinho de papel tinha uma preocupação. E aí a cada semana, ela pegava uma preocupação do potinho e se perguntava: isso é um problema hoje? Se é, como eu resolvo? Se não é, não há solução para aquilo que não é um problema ainda. E ela voltava pro potinho o papel. E eu amei essa história que eu ouvi por três motivos. Eu conto eles nesse episódio e algumas coisas mais sobre ansiedade, preocupação e ruminação. Cê vem?
Eu tinha acabado de pedir um café preto e um brigadeiro para o garçom, quando comecei a folhear um caderno que guardo no fundo do armário. Lá, eu anoto alguns insights e compreensões que eu cheguei depois de muito tempo. E talvez por ter lido um monte de coisa que eu escrevi, talvez pela vibe fim de ano, talvez pelas duas coisas juntas, naquele dia mais tarde, quando eu girei a chave do carro, eu decidi: ano que vem a minha principal meta é ser melhor para mim. E antes de chegar em casa eu já tinha desenhado cinco outras, que vão funcionar como uma espécie de termômetro para eu saber se to perto ou longe disso. Te conto todas no episódio dessa semana, cê vem?
Foi essa frase que me chegou nesse último sábado. Eu tinha acabado de colocar detergente na esponja e instintivamente, meio que sem pensar, eu pedi para Alexa tocar uma música. Mais precisamente um álbum que eu gosto muito. Mas assim que o som invadiu a cozinha, algo bateu estranho. Como se eu tivesse convidado alguém para entrar na minha casa, mas assim que a pessoa se materializou no interfone, eu pensei: cara, não era isso que eu queria. Como se o meu corpo inteiro tivesse rejeitando a ideia de ter alguém ali, no meu espaço. Acho que todo mundo já passou por isso, quando recebeu ou fez um convite para ir numa festa. E, quando você tava lá, você pensou: cara, a ideia de estar numa festa parecia ótima, mas agora que eu estou aqui, eu queria mesmo tá em outro lugar. Eu acho que isso acontece por muitos motivos, mas eu acho que tem dois principais: o primeiro é que a gente se viciou no barulho. A gente precisa o tempo todo tá vendo, ouvindo, rolando o feed porque a gente não consegue ma
Fiquei impactada com o meu próprio pensamento, porque foi como dizer: ir devagar também é ir. Se movimentar com calma, também é se movimentar. Eu não preciso começar hoje e terminar hoje. Não precisa ser tudo de uma vez, não precisa ser tudo agora, eu posso começar hoje e fazer mais um pouco amanhã, e mais um pouco. Até estar do jeito que eu quero. Eu venho falando muito no para dar nome as coisas em como eu sinto que a gente desaprendeu os trajetos, desaprendeu a construção, desaprendeu o processo. E aí fiquei pensando que talvez o acordo mais importante a se fazer é: eu estou disposta a construir isso aqui com tempo? A dar meu tempo pra construir o que eu quero? Talvez isso seja o mais importante.
Você já teve a sensação de estar numa fase, num ciclo da vida, em que o desejo era abrir mão, deixar ir, soltar ao invés de conquistar, pegar, absorver? A primeira vez que eu me lembro de sentir isso, eu tinha vinte e pouquíssimos anos. Eu estava no meu primeiro estágio da faculdade e estava naquela ânsia de querer comer o mundo. Foi assim por um tempo, até que essa fome que me empanturrou. Era como se eu estivesse na frente de uma mesa de comida, com muitas opções, e fosse comendo tudo que tem ali e, em determinado momento, eu não conseguia sentir mais o gosto de nada. Parecia que tudo tinha virado uma massa de açúcar ou de sal. As coisas tinham pedido o gosto, o sabor. E eu entendi que era preciso, então, um tempo para digerir. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Dias depois dessa viagem, eu tava tomando banho. E aí sabe aquele momento que você olha pra sua vida e pensa: apesar das faltas e falhas que tem em qualquer vida, eu gosto da minha? Eu gosto de quem eu sou? Não gosto sempre, nem todos os dias, mas eu gosto. Não quero ser outra pessoa. Tô em paz com as escolhas que eu fiz, com as escolhas que não fiz, consigo olhar pras minhas versões passadas com compaixão e a compreensão de que elas fizeram também o que sabiam. E isso não significa que eu nunca julgue elas - eu julgo, mas eu também entendi que julgar faz parte do que é a mente humana. E foi quando isso tudo assentou no meu corpo, que eu lembrei daquela frase que eu tinha ouvido. E ela me pareceu ser a explicação pra essa sensação de bem-estar que eu tenho sentido com esse momento da vida. Te conto qual é amanhã. É por aí que vai o episódio dessa semana, cê vem?
Lendo a Brené Brown eu entendi que o medo de não agradar, que é tão humano, assim como o medo de não ser perfeito e o medo de ser vulnerável, esconde o medo da desconexão. O medo de que algo - que nos mantém juntos - se desplugue, se desconecte, caso a gente se mostre de verdade. Para evitar essa desconexão, a gente pode ir para muitos caminhos. Eu vou citar só dois: a gente pode ficar tentando adivinhar o tempo todo o que é que fez o outro ficar. Porque se a gente souber o que fez o outro ficar, a gente pode repetir aquilo. Eu lembro de uma cena da minha adolescência que eu acho que é quase universal e exemplifica muito isso...mas eu te conto amanhã, cê vem?
A cena só não era como ele tinha dito, porque tem coisa que é tão bonita, que é difícil de descrever. Na nossa frente parecia que a caverna estava fechada por uma cortina de água. Eu estava tão impressionada, que não consegui falar mais nada. A gente ficou um tempo em silêncio meio mudo, meio em comunhão com aquilo tudo. Então, um pouco antes da gente pegar o caminho de volta, o Décio disse: "não parece a nossa mente? Têm horas que a gente pensa que vai se afogar, mas aí a gente continua caminhando e uma hora passa, as coisas assentam, a água baixa e a gente encontra um lugar de calmaria em meio ao caos." E eu só consegui concordar: "parece muito".
Quando falo de medo de dar certo, geralmente, me refiro ao medo que está colado em sonhos que são nossos. No tema das cenas que imaginamos no meio do banho, quando estamos sozinhos. Nos prêmios imaginários que adoraríamos ganhar: melhor medo de dar certo atriz, melhor escritor, melhor desenhista, melhor artista, melhor administrador de finanças. Mesmo na imaginação, mesmo conscientes de que só estamos descalços e molhados no box do banheiro, sentimos toda a alegria e a adrenalina. E isso ocorre por um motivo: aquilo é grande e vivo em nós. É nessas coisas que o medo de dar certo costuma vir colado. E vem sempre acompanhado da pergunta: quem sou eu para realizar isso com que sonho muito e há tanto tempo? Quem sou eu?
Não se esqueça que o passo que você está dando é mais importante do que o caminho que você vai encontrar. Até porque o melhor caminho, a gente encontra enquanto anda, enquanto testa, enquanto experimenta, enquanto se coloca na vida. Acho que se concentrar no passo, garante - em alguma medida - que o destino já chegou. Porque o primeiro passo é o sinal de que algo já aconteceu. Já começou a acontecer, já se movimentou. No meu livro, eu digo isso: não dá para andar e permanecer no mesmo lugar - e isso é um alívio. Depois do primeiro passo, algum movimento sempre acontece. Mesmo que seja só internamente, mesmo que seja só dentro de você - e esses movimentos que acontecem dentro da gente, sempre antecede todos os outros. Isso é uma das coisas que eu queria dizer a você e a mim hoje.
Há algo na mudança que é assustador: não se sabe, exatamente, o que a gente vai encontrar do outro lado. É sempre uma aposta e, por isso, tem uma parte que é alívio, outra parte que é angústia. E disso que eu falo hoje. É a estreia do quadro "Me vê dois copos?" da nossa mesa de bar preferida. : Agora, o Para dar Nome às Coisas traz um episódio novo, em vídeo, a cada quinze dias. Os episódios tradicionais de quarta-feira seguem sendo publicados semanalmente, as quartas-feiras.
Outro dia eu fui na padaria comprar pão. Enquanto esperava para ser atendida, uma das balconistas levava uma bronca por ter quebrado o sonho, de novo. O jeito que ela tentava pegar o doce, despedaçava antes que ela conseguisse levar para caixinha, entregar pro cliente. Já tinha acontecido algumas vezes aquilo e ela não tava conseguindo acertar. Voltei para casa e assim que eu estacionei o carro, pensei: às vezes somos as únicas testemunhas do nosso esforço. É o segundo episódio do quadro "Me vê dois copos?" da nossa mesa de bar preferida. : Agora, o Para dar Nome às Coisas traz um episódio novo, em vídeo, a cada quinze dias. Os episódios tradicionais de quarta-feira seguem sendo publicados semanalmente, as quartas-feiras.
O mais difícil não é sentar à mesa para ter a conversa difícil, o mais difícil é sentar. O mais difícil não é sentar na frente do computador para escrever, o mais difícil é sentar. O mais difícil não é sentar no chão e arrumar as gavetas, o mais difícil é sentar. Li essa ideia num livro, dias desses, e gostei. Me fez sentido. Mas daí fiquei pensando na razão de isso ser o mais difícil - o sentar. A conclusão a qual cheguei eu compartilho nesse episódio. É o terceiro episódio do quadro "Me vê dois copos?" da nossa mesa de bar preferida. : Agora, o Para dar Nome às Coisas traz um episódio novo, em vídeo, a cada quinze dias. Os episódios tradicionais de quarta-feira seguem sendo publicados semanalmente, as quartas-feiras.
Quais são as expectativas irreais que eu tenho sobre mim, mas que eu vivo dizendo que são do outro sobre mim? É o quarto episódio do quadro "Me vê dois copos?" da nossa mesa de bar preferida. :) Agora, o Para dar Nome às Coisas traz um episódio novo, em vídeo, a cada quinze dias. Os episódios tradicionais de quarta-feira seguem sendo publicados semanalmente.
Conversas importantes
Esses dias, durante uma festa de um amigo da família, vi meu pai dançando. As outras pessoas tavam concentradas fazendo outras coisas e ele tava ali, jogando o corpo prum lado e pro outro. Achei aquilo lindo e fiquei pensando em como a gente precisa mesmo dançar como se ninguém tivesse olhando. Mas mais do que isso, fiquei pensando como em mundo de telas, de like, de compartilhamento, de redes sociais, a gente precisa dançar mesmo que ninguém olhe. A gente precisa voltar a dançar, e ver paisagens, e beijar, e sair, porque isso basta. Dançar porque isso basta. Viver porque isso basta. Mesmo que ninguém olhe. Porque afinal de contas, quando basta, isso é tudo. É o sexto episódio do quadro "Me vê dois copos?" da nossa mesa de bar preferida. : Agora, o Para dar Nome às Coisas traz um episódio novo, em vídeo, a cada quinze dias. Os episódios tradicionais de quarta-feira seguem sendo publicados semanalmente.
"ninguém rouba aquilo que você viveu." A primeira vez que vi essa frase foi numa tatuagem no braço de uma colega de profissão. Anos depois ela virou um antídoto pro meu apego. Chegou mais um episódio do Me Vê dois Copos? Um quadro do Para dar Nome às Coisas exclusivo pro Spotify.
bons roteiros, em boas histórias, o personagem principal parte rumo a um lugar em que ele, finalmente, se torna o personagem principal da própria história". Ouvi essa frase esses dias. Nesse episódio, te conto como ela me bateu e como me levou para uma reflexão sobre alguns aspectos da minha própria vida.
Eu acho que o processo de dor é parecido com um quarto escuro, quando você tá num quarto escuro, o escuro suga tudo. Você não consegue ver a bola de basquete que te lembra o quanto você ama jogar, nem consegue enxergar o porta-retrato que te lembra o quanto você é amado. De repente tudo é dor. E escuro. Mas o escuro, e a dor, não duram para sempre. Porque a cura é tipo um quarto que amanhece gradativamente. Vai entrando luz e alívio devagar e aos poucos, até que a gente se sente pronto pra mudar daquele lugar - dentro e fora. É por aí que vai esse episódio do "Me vê dois Copos" - um quadro em vídeo e sem roteiro do "Para dar Nome às Coisas".
"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Eu gosto muito dessa frase da Clarice Lispector. E gosto, porque ela me lembra uma conversa que eu tive com o meu sogro dias atrás sobre hortas. Sobre o processo de ter calma e generosidade ao olhar para as coisas, ao olhar para dentro, antes de decidir jogar fora. Antes de excluir o que nos disseram ser ruim. Qualidades e defeitos, muitas vezes, são a face de uma mesma moeda. E não coisas opostas. E é preciso atenção para não jogar tudo fora. Me vê dois Copos é um quadro do Para dar Nome às Coisas, em vídeo, a cada quinze dias. Os episódios tradicionais de quarta-feira seguem sendo publicados semanalmente, as quartas-feiras.
Dias desses, saí para tomar uma cerveja com alguns amigos uma pergunta começou rolar na mesa: "o que é inteireza para você?" Não lembro do que respondi na hora, mas se fosse hoje, certamente responderia: inteireza para mim é me permitir ser em tudo que eu sou. Me deixar ser ridícula, não admirável, tosca. Não precisa negar de mim parte alguma.
É a história de uma mulher que, em determinado momento da vida, decide tentar realizar o sonho de ser musicista. A irmã dela, vendo esse movimento, pergunta: "mas e se você não conseguir tirar nada disso? E se o sucesso nunca vier? E se você passar a vida tentando e nada acontecer?" No que ela responde: "se você não consegue perceber o que eu já estou tirando disso nenhuma explicação será suficiente." Há algo que acontece antes do acontecimento visível. Há algo que se transforma antes do resultado concreto. Há algo que cresce antes do fim. E esse algo importa tanto quanto a própria coisa. O 'Me vê dois Copos' é um quadro em vídeo do Para dar Nome às Coisas. Assista ou ouça inteirinho no @spotify
"Não é problema meu." Isso é uma coisa que eu tenho treinado dizer o tempo todo pra mim mesma, depois de me pegar várias vezes engajando em coisas que não fazem sentido algum no fim do dia. Sabe? Ah o que o outro disse, o que ela fez, o que fulano mostrou, aquela notícia medonha, aquela história bizarra, aquela conta no tik tok. Tanta coisa que não é problema meu, mas que eu tô lá dando minha energia, sem consciência e autonomia, e no final não sobra pros assuntos do meu cercadinho, que realmente importam, sabe? Ando treinando essa frase de saída: "não é problema meu", para sobrar tempo e energia pro que é.
No último sábado (04/11), grandes nomes da podosfera brasileira reuniram-se para celebrar a arte de contar histórias no Spotify Podcast Festival. O Brasil é o nosso segundo maior mercado de podcasts, tanto em termos de ouvintes quanto de criadores, e está repleto de pessoas talentosas que usam essa mídia para se conectar com os outros, compartilhar histórias e inventar outras tantas mais. O festival permitiu que criadores e fãs se conectassem de forma especial. Os talentos dos programas Originais e Exclusivos Spotify, como Mano a Mano, É nóia minha? e Para dar nome às coisas apresentaram sessões ao vivo, ao lado de outros grandes nomes da podosfera como Um Milkshake Chamado Wanda, Modus Operandi, Bom dia, obvious, Nerdcast, PODDELAS, Gostosas também Choram com lela brandão, Os Sócios, Inteligência Ltda. e TICARACATICAST. Confira como foi a sessão do Para dar Nome às Coisas convida Gostosas Também Choram!
Nenhuma aprovação externa vai ser suficiente se eu não concordar com ela, assim como nenhuma desaprovação pode ser tão destrutiva, quanto é quando eu concordo com ela. É sobre insegurança o "Me vê dois Copos" da vez. Episódio na íntegra no @spotify Cê vem?
Apego é aquilo que apaga a diferença entre ocupar espaço e fazer presença. Me vê dois Copos é o quadro quinzenal em vídeo do podcast Para dar Nome às Coisas. Você pode ver o episódio na íntegra no Spotify.
Acho que a dúvida, muitas vezes, esconde um desejo de tomar a decisão perfeita. A escolha impecável. Acontece que a vida, muitas vezes, não é uma prova de uma única alternativa certa e verdadeira, mas de várias certas e verdadeiras. Então me parece que o desafio não é escolher a melhor decisão, mas escolher aquela que a gente toleraria menos a falta causada por ela. Me vê dois Copos é o quadro quinzenal em vídeo do podcast Para dar Nome às Coisas. Você pode ver o episódio na íntegra no Spotify.