Eu tava varrendo embaixo da mesa, quando vi aquele quadro de novo. Ele tinha sido da minha tia e foi pra minha casa, quando ela se mudou e perguntou: alguém quer? Eu quis, era um quadro bonito. Semanas depois, meu pai tava segurando o quadro em todas as paredes da minha casa, enquanto perguntava: e aqui, sim ou não? Era tudo não. O quadro era bonito, ficava lindo na casa da minha tia, mas não tinha lugar na minha. Olhando pro quadro, pegando pó do lado da mesa, pensei: isso parece com o processo de autoconhecimento. É preciso saber o que parece bonito e tem valor, mas não cabe na vida da gente. Pra, a partir dessa constatação, deixar espaços abertos pro que é bonito, tem valor e cabe.