Tava todo mundo produzindo. Fazendo academia no quarto, escritório na sala, aula de inglês na cozinha, tocando violino na varanda. Eu não. Eu tava ali, virando de posição na cadeira, tentando e fracassando na entrega de um texto que já estava atrasado. No décimo gole de café, uma música começou a tocar na rua de cima. Por cima dela, um cara disse: “essa vai para a fulana de tal”. Na primeira música, eu lembrei que o prazo não era tão urgente e, quando eu vi, eu tava ali debruçada na janela de casa, acendendo e apagando a luz do apartamento como o moço do microfone tava pedindo. De repente, eu era parte de um pisca-pisca infinito e desconhecido. Éramos coro numa declaração de amor em vida que durou quinze minutos, mas ainda me ecoa nesse março do ano seguinte. Naquele dia, no meio de uma pandemia que só estava começando, eu ia aprender que as pequenas coisas não nos leva pra grandes lugares, mas nos dão sentido para atravessar os dias difíceis. Edição @valdersouza1 identidade visual @am