Os espanhóis sabem fazer a festa e o Carnaval de Verín, em Espanha, bem próximo de Chaves, é só para bravos - a começar pela Enfariñada que, como o nome indica, envolve ovos e farinha nas ruas entre miúdos e graúdos. Em San Cibrao, bem junto à fronteira, as festividades pagãs da queima do Entrudo à noite tomam dimensões cinematográficas. Muitos portugueses participam nestas festas.
De frente uma para a outra estão Alcoutim e Sanlúcar do Guadiana, duas terras separadas por um rio que serve de fronteira, mas que três dias por ano têm direito a uma ponte pedonal no Festival do Contrabando. Guiados por um dos fundadores deste festival que, curiosamente, vive do lado espanhol do Guadiana onde as casas são mais baratas, percebemos como o despovoamento afeta esta zona da raia.
Ele é espanhol, ela é portuguesa. Tinham a data marcada para o casamento. Com a pandemia e a fronteira fechada, decidiram fazer uma cerimónia simbólica precisamente num marco fronteiriço de Vilar Formoso. É nesta conhecida Fronteira da Paz que existe também a Rádio Fronteira. Em Quadrazais, recriam-se os antigos percursos do contrabando a cavalo.
O Festival Transfronteiriço "Boda Régia" acontece em Marvão e no município espanhol de Valência de Alcântara. O ponto alto é a recriação histórica do casamento entre o Rei de Portugal, D. Manuel I, e a Infanta Isabel, filha dos Reis Católicos, que aconteceu em 1497 naquela vila espanhola. Subindo a fronteira, atravessamos o Rio Erges a pé, em mais uma Rota do Contrabando, e assistimos ao espetáculo de teatro "Conquistadores", uma paródia aos Descobrimentos que aguçaram a rivalidade entre portugueses e espanhóis.
Muitos galegos da raia sentem-se mais portugueses do que espanhóis. A culpa é da proximidade e da língua galaico-portuguesa que vem do tempo das cantigas de amigo, dizem. As redeiras de La Guarda tecem as redes para pescadores portugueses e dizem que já nem reparam que estão a mudar de país quando vão a Portugal. Assim como os animais, vales e montes - a natureza não tem fronteiras
Em Rio de Onor / Rihonor de Castilla, duas aldeias gémeas não têm separação e um habitante espanhol vai todos os dias a Portugal comprar pão. É só andar uns cinquenta passos. Mais perto de Miranda do Douro, conhecemos a rota que D. Dinis fez até assinar o Tratado de Alcanizes, fixando-se os limites fronteiriços entre os dois reinos em 1297. As danças dos paus são comuns a ambos os lados da raia e terminamos numa Festa dos Pauliteiros em São Martinho de Angueira, que pela primeira vez tem mulheres dançarinas.