A Gracinda, que queria ser Graciete, engravidou e gestou três vezes, educou duas filhas, não namorou enquanto não se pagava o terreno que o pai tinha comprado para poder plantar árvores e terem sombra e fruto. A Gracinda que se apaixonou pelo carpinteiro da aldeia porque não vinha sujo para casa, que era vista como a culpada das bebedeiras dele, a quem lhe gastaram o dinheiro da taberna. Que começou a trabalhar aos 11 anos. Que nunca foi à escola porque não havia ali ao pé. Que fez quase 100 quilómetros a pé para ir vindimar por um caminho perigoso. E depois voltou para casa pelo mesmo caminho, mas com dinheiro. Que não foi ouvida pela Jacinta nem pelo Francisco, porque os pastorinhos não lhe salvaram a bebé, que foi a enterrar numa caixa de sapatos. Que não nomeou as filhas nem Jacinta, nem Francisco, nem Graciete nem qualquer nome que gostasse. Que ultrapassou a idade da mãe em três anos. Que em dezembro de 2023 me deu esta entrevista deitada na sua cama, à hora de almoço...