O que é que leva alguém a entrar num barco a caminho da Europa? Conheci um iraquiano acabado de chegar a Lesbos, na Grécia. Enviou-me um vídeo gravado ainda dentro do bote.
Em Atenas, vi o cenário mais sarcástico de sempre: refugiados colocados num aeroporto abandonado. As placas ainda lá estão. Suécia, Londres, Madrid. A zona VIP também. “No barco morremos uma vez. Aqui é todos os dias”, contou-me um refugiado sírio.
Um ano depois, reencontro as pessoas que conheci na Grécia. Fizeram caminhos diferentes na Europa. Uma seguiu a via legal, outra a ilegal. Sabe quanto custa um passaporte português no mercado clandestino? Muito dinheiro.
A União Europeia enviou milhões de euros para a guarda costeira líbia, acusada por várias ONG de violar os direitos dos migrantes no mar. Numa entrevista exclusiva, questiono a Comissária Europeia Ylva Johansson sobre os relatos de atrocidades cometidas no Mediterrâneo.
O discurso político tem a capacidade de moldar a forma como vemos o mundo. O Alto Comissário da UE descreve a Europa como um jardim que pode ser invadido pela selva, os migrantes de outros países. Para o antigo diretor adjunto da Frontex, a Europa tornou-se outra coisa: uma fortaleza.
A guerra na Ucrânia provocou o maior fluxo de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Fiz o caminho inverso ao de quem foge e dei por mim a olhar outra vez para o mar. Só que agora era o Mar Negro. Odessa vive em sobressalto.
Em Bruxelas, sobrevive-se dos restos da solidariedade. A cidade é o retrato das políticas migratórias da União Europeia. Há dois sistemas paralelos que tratam pessoas de forma diferente: ucranianos e não-ucranianos. Será isto o jardim?