Na antevéspera do Natal de 2021, uma mulher que se apresenta como Mari está tentando impedir que funcionários da prefeitura de São Paulo podem uma árvore. Enquanto ela tenta mobilizar vizinhos do bairro de Higienópolis, pessoas sussurram que ela é a bruxa que mora na casa abandonada. Depois de perder a guerra contra o corte da árvore, a mulher se aproxima do repórter Chico Felitti. É então que vem à tona a possibilidade de ela ter um passado de crimes.
A vizinhança compartilha as histórias que coleciona sobre Mari, cujo nome verdadeiro é Margarida Bonetti. Ela é uma herdeira que cresceu na mesma mansão onde mora em 2022 e que se mudou para os Estados Unidos no fim da década de 1970. Voltou 20 anos depois, fugindo da polícia federal americana e da acusação de ter cometido crimes em solo americano.
A pacata cidade americana de Gaithersburg foi o palco dos crimes de que Margarida Bonetti foi acusada. Por duas décadas, uma empregada doméstica morou na casa de quatro quartos de Margarida e seu marido, Renê Bonetti. Ela não ganhava salário e era agredida, apontou uma investigação do FBI. Chico Felitti viaja até Gaithersburg, mas há um manto de silêncio cobrindo a vizinhança. Até que uma moradora da mesma rua decide falar: a vizinha que ajudou a brasileira explorada a fugir da casa de Margarida e a buscar ajuda.
Margarida conseguiu fugir da Justiça americana ao se isolar em uma mansão destruída no Brasil. Mas seu marido, Renê, ficou nos Estados Unidos, onde foi julgado, condenado e cumpriu pena. Quinze anos depois de ele sair da cadeia, vamos entrar numa busca por esse homem, e também descobrir mais sobre a pessoa que foi explorada por Margarida Bonetti, e que hoje vive protegida pelo governo americano.
O caso de exploração envolvendo Margarida Bonetti pode ser chocante, mas está longe de ser único. A equipe do podcast conta histórias similares que aconteceram no passado recente em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em Santos. Pesquisadoras que estudam a escravidão contemporânea explicam por que o Brasil é um país que explora mulheres pretas, e como esses crimes sobreviveram até 2022.
Após cinco meses de investigação do podcast, Margarida Bonetti desaparece. A reportagem passa semanas tentando entrar em contato com ela, mas a mansão em pandarecos parece estar ainda mais inacessível. Vizinhos se dispõem a ajudar a encontrar a mulher da casa abandonada, enquanto um reconhecido advogado criminalista analisa se ela ainda pode responder pelos crimes de que foi acusada 20 anos atrás.
O podcast da Folha "A Mulher da Casa Abandonada" teve seu sétimo e último episódio publicado na quarta-feira (20). Fruto de uma investigação do jornalista Chico Felitti, a série tem como protagonista Margarida Bonetti, brasileira que foi investigada sob a acusação de manter uma empregada doméstica em condições análogas à escravidão por 20 anos nos EUA. "A Mulher da Casa Abandonada" teve quatro milhões e meio de ouvintes únicos até agora. Com a repercussão do podcast, também vieram um aumento nas denúncias de trabalho escravo e novas informações sobre o caso de Margarida. No episódio desta terça (26), o "Café da Manhã" conversa com Chico Felitti sobre esses desdobramentos e discute a repercussão da série.